Médico do programa de Fátima Lopes entre a vida e a morte após grave acidente

João Espírito Santo sofreu um trágico acidente de viação, que o colocou entre a vida e a morte, há cerca de dois meses.

O programa A Tarde é Sua desta quinta-feira, dia 2 de janeiro, ficou marcado por um regresso muito especial: João Espírito Santo, médico dentista responsável pela rubrica Senhor Doutor, regressou às tardes da TVI depois de, há cerca de dois meses, ter sofrido um trágico acidente de viação que o colocou entre a vida e a morte.

O médico, de 40 anos, ia a caminho do Porto, depois de um almoço com amigos, para marcar presença numa missa de sétimo dia de uma pessoa próxima. Foi então que a vida lhe pregou um susto e João Espírito Santo acabou por embater num carro e capotar.

«Estive 13 dias em coma. Quando acordei, estava com vontade de viver!», começou por revelar o dentista, acrescentando que o acidente o deixou inconsciente e encarcerado dentro do carro. «Lembro-me de ouvir alguém dizer “ele está morto”. Já estava consciente, mas estava completamente incapacitado. Lembro-me de dizer “eu mexo as pernas. Por favor, não me cortem as pernas», confessou.

Fátima Lopes aproveitou para mostrar aos telespectadores as imagens do estado em que ficou o carro após o acidente, que mostram a viatura completamente destruída. João Espírito Santo foi submetido a algumas cirurgias, principalmente de reconstrução. «Estou sem uma parte da orelha. Já fiz uma parte da reconstrução. A  minha mão direita também foi reconstruída. Fizeram-me várias cirurgias à mão, mas felizmente, vou-vos contar, a semana passada fui comer um francesinha sozinho para saber se era capaz, e fui», contou, com um sorriso no rosto.

«Ele é um excelente dador de órgãos»

João Espírito Santos deu entrada no hospital de São João, no Porto, com um diagnóstico «muito complicado» e mesmo depois de acordar do coma havia «muita coisa comprometida»: Eles não sabia se o acidente me tinha afetado a coluna ou se tinha problemas cognitivos, algum traumatismo.»

Foram dias muito difíceis e angustiantes para a família do dentista, que garante que a sua mulher, Mariana, foi uma verdadeira «heroína». A mãe dos seus três filhos, de cinco, oito e 10 anos, ouviu dos médicos que o marido era um «excelente dador de órgãos».

«A energia da  minha mulher foi para lá do normal. Disseram-lhe “Ele é um excelente dador de órgãos”. Ela teve uma energia… Lembro-me que quando acordei ela disse-me: “Estou preparada para um divórcio, para tudo o que tu quiseres, menos para ser viúva”. E eu disse «Ótimo, porque eu estou cá, não sei como nem como vou ficar, mas ótimo!», contou, revelando ainda que, durante o período do coma, teve alguns momentos de lucidez: «Tive reações.

Lembro-me de ver o meu pai a chorar à minha direita. Lembro-me de ouvir a Mariana a dizer aos médicos que eu lhe mandava beijinhos, porque quando ela falava  comigo e pedia para eu reagir, eu fazia esse gesto com a boca. Até houve um médico que, em tom de brincadeira, disse: “se se ele em coma te manda beijinhos, é porque gosta mesmo de ti.”»

«A estrada pode ser um caixão»

O acidente fez com que o dentista passasse a dar mais valor à vida: «Há coisas pelas quais temos de passar na vida e eu acho que tinha de passar por esta privação e levo este acidente como um ensinamento para valorizar cada vez mais a minha vida, as minhas prioridades, a minha maneira de viver pelos meus filhos.»

«A estrada pode ser um caixão. Há coisas que tu aprendes. Quis voltar a conduzir, quis perceber se era capaz. Voltei a Lisboa há coisa de 15 dias e vim o caminho a reparar nas pessoas a conduzir, nos excessos de velocidade, nas ultrapassagens… Coisas que não reparas no teu dia-a-dia, mas hoje em dia olho para a estrada de outra forma, com mais respeito», acrescentou.

O acidente fez João Espírito Santo perceber que, apesar do tempo que ficou sem falar ou comunicar com alguns amigos, muitos deles se disponibilizaram para ajudar a sua família. Esse gesto foi algo que o comoveu e que o encheu de «alegria» por saber que tem pessoas à sua volta que se preocupam consigo.

No entanto, esta foi também uma fase que o fez fazer uma «limpeza» em relação a algumas pessoas «sem caráter» que permaneciam na sua vida.

«Recebi e-mails de pessoas a pedir aumentos salariais, porque como eu estava em coma, iam ter de trabalhar mais. Isto foi tudo bom, ajudou-me a «limpar» algumas pessoas. Percebi que tinha pessoas do meu lado que não interessavam.

«Pai, estás vivo?»

O «Senhor Doutor» acabou por confessar ainda que chorou por algumas vezes no hospital, uma delas no aniversário do seu filho João, de oito anos: «Quando acordei do coma, o meu filho João fazia oito anos. Fiquei revoltado, queria sair do hospital, disse que me queria ir embora. O meu pai disse que podia falar com o meu filho pelo telemóvel, mas que não podia chorar. Falámos por video-chamada e o meu filho pergunta-me: “Pai, estás vivo?”. Prometi-lhe que quando voltasse lhe cantava os parabéns, mas começo a chorar e ele foi também a chorar para o quarto».

«A Mariana foi sempre sincera. Disse-lhes que o pai estava no hospital, que estava a dormir. No primeiro dia, tudo bem. No segundo, perguntaram se podiam ir ao hospital. A Mariana disse que eu continuava a dormir. No terceiro pediram para me ligar e a Mariana voltou a dizer que eu estava a dormir. Foi assim durante 13 dias. Quando acordei, desentubei-me pela necessidade de querer viver. Desentubei-me no aniversário do meu filho», disse.

No final da conversa com Fátima Lopes, João Espírito Santo revelou que combinou com alguns amigos ir a Fátima a pé, como forma de agradecimento por ter superado esta situação. O dentista ainda não regressou ao trabalho, uma vez que continua a fazer fisioterapia à mão direita, mas contou ainda que tem ido visitar a sua clínica, para ver os seus pacientes e «dar-lhes beijos».

Texto: Mafalda Mourão; Fotos: Reprodução Redes Sociais e D.R

 

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