Irmã de Pedro Lima reage à morte do ator: «Não sei para onde vou»

Alexandra Lima reagiu à morte de Pedro Lima com um poema intitulado Cântico Negro, da autoria de José Régio. A irmã de ator optou por esta arrepiante homenagem neste momento de dor

Alexandra Lima, a irmã de Pedro Lima, que foi encontrado morto na manhã deste sábado, dia 20 de junho, na praia do Abano, Cascais, já fez questão de lhe prestar uma homenagem em tom de despedida.

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Poucas horas após a divulgação da trágica notícia que abalou o mundo da representação e os portugueses, Alexandra recorreu à página de Facebook para deixar uma despedida simplesmente arrepiante. A irmã do ator deixou-lhe o poema intitulado Cântico Negro, da autoria de José Régio.

Leia a mensagem na íntegra:

«CÂNTICO NEGRO»

“Vem por aqui” – dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
– Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
– Sei que não vou por aí!»

O corpo de Pedro Lima, de 49 anos, foi encontrado na manhã deste sábado, dia 20 de junho, na praia do Abano, em Cascais, poucas horas após os amigos terem recebido «mensagens de despedida». O seu carro foi encontrado no estacionamento da praia com os objetos pessoais lá dentro.

O ator deixa cinco filhos: João Francisco, com Patrícia Piloto, Ema, Mia, Max e Clara, frutos da relação com Anna Westerlund.

Texto: Márcia Alves; Fotos: Impala e reprodução Facebook

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