Jeffrey Dahmer: Como funciona o cérebro de um assassino em série

Jeffrey Dahmer é lembrado por atrocidades que incluem assassinato, necrofilia e canibalismo. O neurocientista Fabiano de Abreu explica o que está por trás de uma mente assassina.

O assassino em série Jeffrey Dahmer ganhou destaque nos últimos dias após o lançamento da nova série da Netflix Dahmer: Um canibal americano, tendo registado a melhor semana de estreia na história da plataforma de streaming. A série retrata a história de um dos serial killers mais notórios do século XX e que até hoje gera debates  sobre como os transtornos mentais podem moldar um homicida.

Quem foi Jeffrey Dahmer?

Jeffrey Lionel Dahmer nasceu em 21 de maio de 1960, em Wisconsin, Estados Unidos, no seio de uma família disfuncional. A mãe era temperamental e o pai ausente. Quando juntos, discutiam constantemente. Assim, Jeffrey acabou por se tornar uma criança introspectiva e tímida. Aos seis anos, com o nascimento do irmão, isolou-se ainda mais no seu mundo, chegando ao ponto de viver em silêncio quase absoluto. Na adolescência, tinha como passatempo recolher animais mortos nas ruas para realizar “exames anatómicos”.

Além disso, tinha prazer em torturar animais vivos e, quando mortos, empalá-los e abandonar os crânios em florestas. Assim que fez 18 anos, alistou-se no exército norte-americano. Acabou por ser dispensado pouco tempo depois devido ao vício em álcool. Mais tarde, o alcoolismo levou Jeffrey a ser detido por desordem. Já em 1986, foi detido por ter se masturbado à frente de dois meninos. Três anos depois, foi preso novamente, desta vez por ter abusado sexualmente de crianças. Foi condenado a um ano em liberdade condicional, tendo apenas pernoitar na prisão.

Canibal chegou a ter sexo com… órgãos das vítimas

Enquanto isso, no entanto, o assassino em série continuava a cometer crimes hediondos. De modo a satisfazer os desejos, seduzia diversos homens em discotecas gays e em saunas. Assim que conseguia atraí-los para sua casa, drogava-os e estrangulava-os até à morte. Depois, recorrendo aos conhecimentos químicos herdados do pai, Dahmer pretendia transformá-los num ‘brinquedo sexual‘. O homicida tinha o hábito de se masturbar em cima do cadáver e, de seguida, fazer sexo anal e oral, registando tudo o que conseguisse em fotografias. Ao satisfazer-se, colocava o corpo ‘de parte’ de modo a poder usá-lo mais tarde. Assim que os cadáveres ficavam ‘inutilizáveis’, abria os corpos, tendo mesmo chegado a manter relações sexuais com os órgãos das vítimas.

Em abril de 1991, encontrou a décima vítima, Errol Lindsey, um jovem de 19 anos. Mesmo sendo heterossexual, Dahmer conseguiu atrai-lo para o seu apartamento, onde o drogou. Enquanto estava drogado, o predador abriu-lhe um buraco na cabeça e injetou ácido clorídrico no cérebro. Em depoimento, Jeffrey afirmou que o objetivo era criar um “zombie“, alguém que fosse completamente submisso e controlável. Esta era a fantasia sexual que mais ambicionava satisfazer. Errol acordou e queixou-se de dores de cabeça. Dahmer ao perceber que a sua experiência tinha falhado drogou-o novamente e estrangulou-o até à morte.

Após saciar a sua lascívia, os interesses gastronómicos falavam mais alto. Esquartejava o cadáver, separando as partes que considerava úteis das inúteis. De acordo com o próprio Jeffrey, os pratos favoritos eram o “croquete de carne [humana]” e “músculos fritos”. Disse ainda ter ereções durante as refeições. Para conseguir livrar-se de possíveis provas, transformava os restos de carnes e ossos numa substância líquida, de modo a escoarem pelo ralo. Em 22 de julho de 1991, a polícia intercetou um homem que vagueava pela rua algemado.

Polícia encontrou cenário dantesco

O indivíduo identificou-se como Tracy Edwards. O homem, de 32 anos, disse que estava num encontro quando foi vítima de uma tentativa de homicídio. De seguida, os policias foram até à morada que este lhes indicou. Foram recebidos por Jeffrey Dahmer, descrito como alguém útil e educado com os agentes. No entanto, uma investigação mais profunda revelou a realidade perturbadora que o assassino tentava esconder. Um dos agentes deslocou-se até ao interior da residência e percebeu que as paredes estavam forradas com fotografias de cadáveres, vísceras e crânios pintados.

Além disso, foram também foram encontrados um tronco humano rasgado na pia, um pénis cortado na tábua, um crânio decomposto numa geladeira e mais de três cabeças no congelador. Não obstante, foram também encontrados túneis repletos de restos humanos putrefatos. Finalizadas as buscas, a polícia identificou os restos mortais de 11 vítimas, todos do sexo masculino e, na sua maioria, negros. No total, o Canibal de Milwaukee confessou ter matado 17 pessoas, entre 1987 e 1991. Dahmer confessou ter comido corações, fígados, bíceps e partes das coxas de várias vítimas. No entanto, o Estado de Wisconsin apenas atribuiu a Dahmer a responsabilidade de 15 homicídios, pelos quais foi julgado em janeiro de 1992.

Jeffreu Dahmer foi encontrado com o crânio esmagado

Como já tinha confessado a autoria dos atos, a defesa alegou insanidade. Contudo, após diversos exames psiquiátricos, o tribunal não aceitou esta tese. O julgamento durou 17 dias. Em 15 de fevereiro, o júri determinou Jeffrey Dahmer como culpado de todas as acusações. Mais tarde, naquele ano, foi condenado por outro homicídio. Dahmer foi sentenciado a 957 anos de prisão. Inicialmente, estava isolado dos restantes reclusos para sua própria segurança. No entanto, paulatinamente, passou a ter contacto com os presidiários.

Em 28 de novembro de 1994, foi trabalhar na companhia de dois outros presos, Jesse Anderson e Christopher Scarver. Vinte minutos depois, os agentes regressaram e encontraram Jeffrey no chão, com o crânio esmagado. Morreu a caminho do hospital. Scarver, que também matou Anderson, atribuiu a culpa a Deus: “mandou-me fazê-lo”. Em 2015, afirmou que Dahmer não se arrependeu dos crimes e que os guardas prisionais deixaram-no sozinho de forma deliberada para que ele o matasse.

Os transtornos de Jeffrey Dahmer

De acordo com pós-doutorado em neurociências e mestre em psicologia, Fabiano de Abreu, o serial killer apresenta alguns transtornos mentais que tiveram como gatilho a infância.”Ele não era psicopata. Os psicopatas tendem a procurar conexões significativas com os outros, já aqueles com impulsos canibais desenvolvem apegos extremos, são mais inseguros e têm dificuldade em manter relacionamentos. Ingerir a vítima é uma demonstração de poder absoluto e de “eternizar” a vítima dentro dele. Isso tem relação com abandono e com a não aceitação das pessoas pela sua forma de ser, que causava estranheza. Há a possibilidade de ter havido maus tratos dos pais, omitidos à justiça.”

“O transtorno de personalidade limítrofe/Borderline afeta a perceção sobre si e os outros, causando problemas na vida quotidiana, incluindo problemas de auto imagem, dificuldade em gerir emoções e comportamentos e um padrão de relacionamentos instáveis. O transtorno de personalidade esquizotípica é caracterizado por ansiedade social grave, transtorno do pensamento, desrealização, e muitas vezes crenças não convencionais. Sentem desconforto em manter relacionamentos próximos e evitam-nos. Por fim, os transtornos psicóticos são transtornos mentais graves que causam pensamentos e percepções anormais. Os acontecimentos ao longo de sua vida foram gatilhos desencadeadores.

Jeffrey Dahmer: Como funciona o cérebro de um assassino?

“É observado em assassinos o funcionamento incomum em regiões subcorticais, incluindo amígdala, hipocampo e tálamo, a amígdala, o hipocampo e o córtex pré-frontal estão envolvidos no controle da emoção; juntamente com o tálamo, são fundamentais para a aprendizagem, memória e atenção , anormalidades na amígdala está de acordo com a teoria destemida da violência, uma vez que os ofensores têm reduzido a excitação autonómica – caracterizada pela presença de surtos de raiva, hipervigilância, problemas de concentração”, afirma.

“Num teste de Varredura cerebral (PET) é percebida a falta de ativação no córtex pré-frontal no assassino. O funcionamento deficiente do córtex pré-frontal predispõe um indivíduo à violência de várias maneiras:

Num nível neurofisiológico, o funcionamento pré-frontal reduzido pode resultar em perda de controle sobre estruturas subcorticais como a amígdala, relacionada à origem de sentimentos agressivos; Num um nível neurocomportamental, o dano pré-frontal é associado a irresponsabilidade, quebra de regras, explosões emocionais e agressivas e comportamento argumentativo – todos os quais predispõem a atos criminosos violentos; A nível de personalidade, o dano frontal está associado à impulsividade, perda de autocontrole, imaturidade, falta de tato, incapacidade de modificar e inibir o comportamento adequadamente e mau julgamento social”.

“Também foram encontrados em assassinos redução do funcionamento do corpo caloso, a faixa de fibras nervosas brancas de comunicação entre os hemisférios cerebrais esquerdo e direito. O hemisfério direito está envolvido na geração de emoção negativa. Em testes com ratos, o hemisfério esquerdo normalmente atua para inibir a tendência de matar do hemisfério direito”, finaliza o cientista.

Divulgação: MF Press;
Fotos: Reprodução Twitter @CrimesReais

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