Pandemia ameaça silêncio e escuridão sem fim nos clubes noturnos do Porto

Antes da pandemia, os clubes noturnos enchiam as noites do Porto com música, exposições e outras artes. Um ano depois, continuam confinados ao silêncio e à escuridão.

Pandemia ameaça silêncio e escuridão sem fim nos clubes noturnos do Porto

Antes da pandemia de covid-19, os clubes noturnos do Porto enchiam as noites de música, exposições e outras artes. Hoje, estão confinados ao silêncio e à escuridão e os empresários depositam esperança na vacina para reabrir no fim do ano.

Angústia e tristeza são as emoções que andam de mãos dadas com a resiliência e a esperança de Filipe Teixeira, dono do Plano B, night club e art gallery localizado na Cândido dos Reis, antiga rua dos tecidos ao lado da Torre dos Clérigos, que, antes da pandemia obrigar ao encerramento, pertencia ao circuito da movida portuense com música ao vivo e exposições artísticas.

Toda a equipa ficou desanimada com a segunda vaga do novo coronavírus, conta Filipe Teixeira. “Ficámos muito em baixo. Nós e o nosso próprio staff. Ficámos sem perspetiva nenhuma de quando é que poderíamos abrir.”

Hoje, olhando para os néones desligados e para a coleção de estátuas espalhadas pelo chão e pelas prateleiras do bar, Filipe Teixeira, mentor do projeto cultural, promete que, quando for possível, reabrirá sem qualquer alteração, por causa das saudades do espaço tal como ele é.

“Um ano passou, 12 meses fechados, 52 fins de semana sem dançar”

Para a reabertura, com uma equipa de cerca de 30 pessoas em lay-off, a gerência planeia convidar DJ residentes e fazer uma festa. Pondera também ter lojas pop up durante o dia e concertos, porque é “desperdício” ter tanto espaço fechado ao público durante sete dias por semana, revela o proprietário à Lusa.

“Um ano passou, 12 meses fechados, 52 fins de semana sem dançar. Continuamos por aqui à espera, à vossa espera”, promete o Plano B na página do Instagram. E é mesmo assim que Filipe Teixeira prevê o futuro do Plano B, com uma reabertura, talvez, em dezembro.

O regresso do Industria, clube noturno com 34 anos, situado no Centro Comercial da Foz do Porto, está também nos horizontes de Rúben Dominguez, diretor artístico e gerente do espaço.

Mal encerrou devido à covid-19, o Industria recalendarizou o concerto ao vivo do músico britânico Fatboy Slim, consagrado na música eletrónica, para 1 de outubro.

“Temos essa data pincelada no nosso calendário. Um de outubro, uma intenção de abrir”, revela Rúben Dominguez, consciente de que, se a covid-19 não o permitir, terão de adiar novamente o espetáculo do músico britânico.

Right Here, Right Now (“Aqui e Agora”) é a frase afixada junto ao bar principal do Industria, em honra a uma das músicas mais conhecidas de Fatboy Slim, e uma prova de que ainda há esperança para a reabertura do clube, no último trimestre do ano.

Mas o “aqui e agora” do Industria de hoje é só obscuridade e silêncio. Vive-se da saudade dos tempos em que foi um dos palcos do Porto de acolhimento de artistas da música de dança e de música eletrónica de todo o mundo.

A grande bola de espelhos pendurada por cima da pista, que refletiu a vida de milhares de pessoas que ali dançaram nos últimos 34 anos, está hoje suspensa num futuro de incertezas e sem apoios.

“Sentimos uma grande desolação, porque o setor da Cultura em geral é bastante discriminado e a que não se olha com a atenção devida”, defende Rúben Dominguez, considerando que este setor é “posto à margem” pelo Governo, e a “falta de apoio” – a falta de uma “palavra” – é “o mais triste”.

Rúben Dominguez refere que clubes noturnos como o Industria têm um “valor cultural e de entretenimento” para a cidade do Porto, que recebia milhares de turistas.

“Éramos uma das grandes valências que a cidade e o País tinham para atrair esse publico [turístico] e, neste momento, não nos dão o devido valor ou o apoio”, desabafa.

Durante o confinamento, o Industria chegou a fazer transmissões em streaming com DJ nacionais – o streaming com a DJ Diana Oliveira teve alcance de mais de 50 mil espectadores –, para “entreter as pessoas em casa, numa fase em que foi muito difícil”, mas foram suspensas porque deixaram de ser “eficazes” e com poucas visualizações, explica Rúben Dominguez à Lusa. A maior parte da equipa do Industria ficou sem trabalho por serem trabalhadores em prestação de serviços.

O Pérola Negra, antigo cabaré e bar de striptease do Porto, na sua terceira fase, em formato de clube noturno com programação cultural regular, também está encerrado há um ano e, apesar de ser “angustiante” e “difícil” ver o mítico espaço do Porto dos anos 70 deserto e às escuras, Hélder Leite, dono, estima reabrir no final deste ano.

Entre sofás vermelhos, varões e espelhos que decoram o espaço, revela que só abre com a chegada da imunidade de grupo. “Quero acreditar que este calvário está a acabar. Mas não sei. Estamos a preparar-nos. Entretanto, começámos a tomar diligências a nível de contactos com as agências internacionais que, ao fim e ao cabo, fazem parte do nosso cartaz e da nossa programação cultural.”

“A covid-19 foi um corte bruto”

O programador cultural do Pérola Negra, Jonathan Teixeira, recorda que 2019 foi um ano de crescimento e que 2020 seria uma fase “muito importante”, porque estavam a ter “muito bom” feed-back do público.

“Com a covid-19 foi um corte bruto. Fomos dos primeiros a assumir uma posição preventiva em relação a isso [à pandemia]. Quisemos proteger o nosso público e fechámos imediatamente depois da nossa última festa, que foi no dia 7 de março com o DJ Seinfeld”, recorda, lembrando que durante a pandemia fizeram um programa de rádio na SBSR FM como forma de alimentar a marca.

Agora, o Pérola Negra está a tentar reativar tudo, através de parcerias com editoras, coletivos, programadores e DJ locais e nacionais, como Kebraku, Undergarden, Lovers & Lollypops, SlimCutz ou Turbo.

“Estamos, basicamente, a recuperar tempo perdido. Tentámos procurar as pessoas que eram próximas de nós [e trazê-las] para a casa [Pérola Negra] novamente, para fazerem parte da estratégia do clube, e agora estamos a falar novamente com estes agentes” culturais.

O Pérola Negra é um projeto que trabalha para envolver as comunidades culturais da cidade, bem como ter um posicionamento ao nível internacional “interessante a nível do clubbing e da componente da música eletrónica, mas não só”, explica Jonhathan Teixeira à Lusa.

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