Por que é que os cães desenvolvem cancro no nariz e as cadelas não?

As probabilidades de um cão ser infetado e de ficar com cancro no nariz são raras – mas não impossíveis – e quatro vezes mais frequentes em machos do que em fêmeas.

Por que é que os cães desenvolvem cancro no nariz e as cadelas não?

“Normalmente não pensamos no tumor como uma doença infecciosa – mas e se lhe disser que existe um cancro contagioso com milhares de anos? Este cancro não é, no entanto, causado pela transmissão de um vírus, mas, antes, fisicamente transmitidas entre cães“, explica Andrea Strakova, investigadora da Universidade de Cambridge. Num novo estudo, “descobrimos que os cães são quatro a cinco vezes mais propensos do que as cadelas a serem infetados com a forma oral e nasal do tumor venéreo transmissível canino (CTVT) – cancro no nariz. As células cancerosas são passadas entre os cães quando cheiram os genitais de outros cães.

A TVTC afeta principalmente as regiões genitais, levando à formação de tumores inestéticos, e é “por norma, transmitida durante o acasalamento“, diz Andrea Strakova, especialista neste tipo de tumores. Por vezes, as células CTVT “podem afetar outras áreas, como nariz, boca ou pele”. “Embora seja uma doença comum que afeta milhares de cães em todos os continentes, as versões oral e nasal são raras”. Transmitem-se “quando um cão cheira os genitais infetados de outro cão”.

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“No nosso banco de dados de quase 2 mil casos, apenas 32 deles afetaram nariz a boca”, enumera. Destes, “84% dos animais com a forma nasal ou oral eram do sexo masculino”. O estudo foi realizado no Transmissible Cancer Group, da Universidade de Cambridge, liderado pela professora Elizabeth Murchison.

Diferenças comportamentais entre os sexos podem contribuir para este risco. Por exemplo, “os cães – machos – parecem ter preferência por cheirar ou lamber os genitais femininos”, sendo o contrário “mais raro”. “Os tumores genitais femininos, que estão mais expostos, também podem ser mais acessíveis para cheirar e lamber comparativamente aos dos genitais masculinos, que, muitas vezes, ficam inacessíveis.”

Um cancro antigo

Os sintomas mais comuns das versões faciais do cancro são “espirros, roncos, dificuldade em respirar, deformação nasal ou sanguinolenta e outras descargas do nariz ou da boca”. Com o tratamento, “grande maioria dos cães recupera”, descansa a médica cientista Andrea Strakova.

Este cancro “quebra o molde de outra maneira”, sendo “extremamente antigo”. “Veio das células de um cão que viveu há milhares de anos e que o transmitiu a outro”. “Evidências genéticas mostram que, provavelmente, tratava-se de um animal parecido com um husky no centro ou no norte da Ásia. As células cancerosas vivas têm saltado de cão para cão desde então, como um parasita. Quando olhamos para as células tumorais atuais de CTVT num microscópio, estamos de fato a ver as células do cão que viveu há milhares de anos. Todas as formas atuais podem ser rastreadas até ao mesmo cão antigo”, conta.

O parasita global que promove o cancro no nariz dos cães

O CTVT “afeta populações de cães em todo o mundo, mas está principalmente ligado a países com largas populações de cães vadios“. “Não está estabelecido de forma acentuada na Europa, mas os casos aumentaram na última década”. Possivelmente, devido à crescente popularidade da adoção de cães resgatados do exterior”.

Deve no entanto notar-se que o CTVT “continua a ser extremamente raro“. As probabilidades de o cancro no nariz estabelecer-se no continente europeu “são pequenas” porque “não há uma população considerável de cães em liberdade”. Implementar “uma melhor triagem de saúde dos cães importados ajudaria a diagnosticar e a tratar casos de CTVT antes que eles possam espalhar-se”. “A consciencialização entre veterinários e donos também pode ajudar a detetar casos precocemente.”

Os cancros transmissíveis “também são encontrados em diabos da Tasmânia e em moluscos, como mexilhões ou em marisco”, alerta. Casos de transmissão entre humanos, contudo, “nunca foram – até agora – relatados”, assevera. O CTVT é “a linhagem mais antiga de cancro” conhecida dos cientistas. A importância do estudo mais aprofundado deste tumor ‘primordial’ é crucial para o entendimento “de como os cancros humanos funcionam”. “Alguns dos processos percetíveis no CTVT por terem milhares de anos e podem também estar a acontecer em cancros humanos até agora por detetar”, conclui a investigadora.

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