Pedro Nuno Santos ganhou o PS, mas o PS perdeu o País

A campanha foi dura, mas perfeitamente normal numa luta interna para a liderança de um partido, porém revelou-nos, surpreendentemente, um Pedro Nuno Santos nervoso e inseguro que recusou debates com o seu antagonista.

Pedro Nuno Santos ganhou o PS, mas o PS perdeu o País

Pedro Nuno Santos foi eleito o novo líder do Partido Socialista. Teve 61,3% dos votos, derrotando José Luís Carneiro que conseguiu 37,7% dos votos. A vitória foi clara, mas longe de ser esmagadora.

O que se dizia ser um passeio no parque tornou-se numa eleição disputada que posiciona José Luís Carneiro com uma palavra importante a dizer no futuro do PS.

A campanha foi dura, mas perfeitamente normal numa luta interna para a liderança de um partido, porém revelou-nos, surpreendentemente, um Pedro Nuno Santos nervoso e inseguro que recusou debates com o seu antagonista.

Desde domingo que ficamos a conhecer quem é o adversário de Luís Montenegro na corrida para Primeiro-ministro de Portugal.

Apresentou-se como “neto de um sapateiro”, raízes que o devem orgulhar, mas também não escondeu que é filho de um dos maiores empresários de São João da Madeira, que também não é pecado. Mas isto não faz de Pedro Nuno um homem que subiu a pulso, um empresário, muito menos um gestor com experiência no sector privado que sabe o que é gerir uma empresa e pagar salários no fim do mês.

Na verdade, Pedro Nuno Santos é um político profissional, o que não vem mal nenhum ao mundo. Chegou à Assembleia da República com 28 anos, foi depois secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, entre 2015 e 2019, e ministro das Infraestruturas e da Habitação até 4 de Janeiro de 2023.
É precisamente nestas últimas funções que começaram os verdadeiros problemas na sua carreira política.

Não devemos julgá-lo pelos discursos inflamados na defesa de Sócrates ou quando em 2011, num jantar de Natal do PS de Castelo de Paiva, que o trouxe para a ribalta política, afirmou “Estou-me marimbando para os nossos credores, estou-me marimbando para o banco alemão que emprestou dinheiro a Portugal nas condições em que emprestou. Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos. E se nós não pagarmos a dívida e se lhes dissermos, as pernas dos banqueiros alemães até tremem.”

Não consta que os banqueiros alemães tenham tremido nessa altura, nem tal se justificava, até porque Pedro Passos Coelho já tinha sucedido a José Sócrates, tendo cumprido escrupulosamente com todos os pagamentos assumidos pelo Estado Português.

Nesta altura Pedro Nuno era um jovem inconformado. Qual foi o jovem, estando na política não pensou que poderia mudar o mundo, que atire a primeira pedra? Eu também por lá passei e assim pensei, mas rapidamente percebi que infelizmente não passava de uma utopia normal nos jovens.

Mas vamos ao que interessa.

Foram vários os erros graves e sucessivos que mostraram um governante imaturo e impulsivo, mas que hoje parecem resolver-se com um simples pedido de desculpas. A responsabilidade política é coisa que deixou de existir no léxico dos políticos, desde 2001, quando o falecido Jorge Coelho, na época ministro das Obras Públicas, se demitiu na mesma noite em que caiu a ponte de Entre-os-Rios.

Quem não se recorda de, em meados do ano passado, Pedro Nuno Santos ter decidido sozinho a localização do novo aeroporto de Lisboa sem dar cavaco a António Costa?

Uma decisão que evidenciou o seu carácter impulsivo que quase lhe custou o lugar de ministro. Foi obrigado a dar o dito por não dito, mas disse que “obviamente” continuava em funções, apesar do duro puxão de orelhas de António Costa que afirmou “Houve um erro grave, o ministro já o assumiu, teve oportunidade para falar comigo. Está corrigido o erro, portanto agora é seguir em frente.”

Pedro Nuno seguiu em frente, mas não foi mais o mesmo, nem por muito tempo. Passou a ser um ministro fragilizado que o deixou imobilizado na acção governativa.

Acabaria por deixar o Governo seis meses depois na sequência da polémica indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis, então administradora da TAP.

Mas o caso não ficou por aqui. Num número de teatro – tipo passa culpas – Pedro Nuno Santos e o seu colega de Governo, Fernando Medina, solicitaram explicações à TAP sobre a indemnização pornográfica, remetendo o processo para averiguações à Inspecção Geral de Finanças e à CMVM. Passados uns dias Pedro Nuno Santos reconheceu que afinal tinha autorizado o pagamento de indemnização, imagine-se por WhatsApp.

Desculpem-me, mas a TAP não é propriamente uma tasca que possa ser gerida por WhatsApp. Apenas um governante imaturo, que tinha a tutela da TAP, toma decisões desta natureza por mensagem escrita.

O novo líder do PS foi também um ministro falhado na execução das políticas, apesar de agora querer convencer os portugueses de que é um fazedor.
Falhou, por exemplo, na Habitação que também tutelou. Este é um dos problemas mais graves que atravessa transversalmente gerações, desde os mais jovens aos mais idosos, mas também dos mais pobres até a uma classe média empobrecida, que se debatem com o problema de não terem acesso a uma habitação digna para viverem, atendendo aos preços astronómicos das rendas e das casas.

Mas além de imaturo e impulsivo, Pedro Nuno Santos é claramente o líder mais à esquerda na história do PS. O maior entusiasta da “geringonça” a quem deu muito jeito agora ter como principal apoiante Francisco Assis, o maior crítico desta solução governativa inventada por António Costa, que acabou por ser a bóia de salvação política, em 2015, do Primeiro-ministro que cessará funções em Março do próximo ano.

As eleições Legislativas sempre foram ganhas no centro político. Foi assim com Mário Soares, Sá Carneiro, Guterres, Durão Barroso, Sócrates, Passos Coelho e António Costa. Não vai ser diferente nas eleições de 10 de Março de 2024.

Não vou chamar radical a Pedro Nuno. Não me parece o caso, mas o novo líder dos socialistas acantonou ideologicamente o partido demasiado à esquerda, em que o eleitorado moderado não se revê.

Não me atrevo a dizer ao estilo Zandinga que está escrito nas estrelas que Pedro Nuno Santos não será primeiro-ministro, mas parece-me que Pedro Nuno ganhou o PS, mas o PS perdeu o País com a sua eleição.

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Paulo Vieira da Silva

Paulo Vieira da Silva
Gestor de Empresas / Licenciado em Ciências Sociais – área de Sociologia
(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)

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