
Apanhem a onda de Salvador Sobral e ouçam mais música nacional
A vitória do Salvador Sobral no Festival da Eurovisão deixou o país à beira de um ataque de nervos. Afinal, ganhámos um concurso mítico com um cantor praticamente desconhecido que interpretou uma música que não encaixava nos cânones de um festival dominado pela imagem e teatralidade.
Ao sermos tão simples, saiu-nos a sorte grande e “elegemos” Salvador como o novo herói nacional e Luísa Sobral como a fiel escudeira.
Independentemente da vitória, da loucura colectiva, da passagem de desconhecido para nova estrela pop, a participação de Salvador Sobral na Eurovisão com a canção “Amar pelos Dois” abriu os olhos dos portugueses para a qualidade da música que se faz no nosso país. Afinal, quem era Salvador antes de ter ido ao Festival da Canção? Sabiam que ele tinham lançado um álbum? Como é que não o conhecíamos?
Pouco me interessa se ganhámos um concurso como a Eurovisão. Nada contra quem adora o festival. Prefiro debater sobre o que falta ao povo português para que conheça melhor os artistas que tem.
Música nacional | Vamos por partes
Há uns anos, escrevi um artigo para um site especializado em música – Strobe – intitulado “Por que não há mais música na TV portuguesa?”. No texto, dei a opinião refiro que quase todos os formatos televisivos usam a música como elemento secundário de um formato que favorece o karaoke barato e as audiências televisivas. Programas como os Ídolos ou o recente Just Duet são meros talent shows onde se transformam pessoas em marcas capazes de serem comercializadas e aproveitadas ao máximo. Os músicos, a sua originalidade, as canções, tudo isso fica em segundo plano. Isto sem falar nos programas de fim-de-semana da RTP, SIC e TVI onde o karaoke barato dos artistas pimba ganha um protagonismo que deixa qualquer um envergonhado. Podem ler o artigo completo, aqui.
Tal como o próprio Salvador referiu na conferência de imprensa que deu quando chegou a Lisboa, as rádios também não ajudam a divulgação da música nacional. É certo que temos a Antena 3, Antena 1 e muitas estações locais mas se analisarmos aquelas que têm maior audiência como a RFM, Rádio Comercial, Renascença, Mega Hits, Cidade percebemos que existe uma enorme discrepância no airplay dos artistas estrangeiros em comparação com os nacionais. “As pessoas só ouvem o que passa nas rádios. Atiram-lhes com uma canção 16 vezes ao dia e obrigam-nas a gostar dela”, disse o vencedor da Eurovisão e eu não podia estar mais de acordo.
Os festivais continuam a apostar em grandes nomes estrangeiros, dando poucas hipóteses aos músicos portugueses de estar num palco principal como cabeças de cartaz. Ficamo-nos pelos palcos secundários de um SBSR ou de um Alive e pouco mais.
Só nos resta então a Internet com a sua infinita biblioteca de conhecimento. Apesar de ser o meio com mais conteúdo disponível e personalizado, é também aquele onde se torna mais complicado encontrar seja o que for devido à quantidade de informação disponível. Acessível e barata, a Internet é o grande veículo de comunicação dos artistas portugueses com o público. Cabe a cada um definir a melhor estratégia de comunicação para alcançar os objectivos desejados.
Tenho pena que seja tão complicado para a música portuguesa florescer no nosso país. Não somos só um país de música pimba (por mais kitsch que a tornemos como fizeram Manuela Azevedo e Bruno Nogueira), nem de músicas antigas ou revolucionárias e muito menos de fenómenos indescritíveis como Maria Leal. Somos um país onde se fala uma das línguas mais bonitas do mundo, onde se canta com emoção como o fado nos ensinou, onde a inspiração vai buscar raízes a África, à Europa, aos Estados Unidos da América, à Ásia.
Existe muito mais do que nos mostram. O Salvador é o mais recente exemplo disso.

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