Zé, o seu pai partiu feliz
Crónica de Humberto Simões, diretor da revista Nova Gente, que esta semana escreve sobre a perda de José Mourinho, Mourinho Félix, falecido no dia 25 de junho
Crónica de Humberto Simões, diretor da revista Nova Gente, que esta semana escreve sobre a perda de José Mourinho, Mourinho Félix, falecido no dia 25 de junho
Maio de 2015. José Mourinho vence mais um campeonato inglês, ao comando da equipa do Chelsea. No entanto, este deve ter sido um dos títulos – e foram 25, até hoje – mais azedos da carreira do treinador português. No momento de festejar, o pai, Mourinho Félix, recuperava em Portugal de um derrame cerebral. O técnico admitiu que foi um momento difícil, mas, depois de ultrapassado, veio o alívio.
Na verdade, e apesar de ver o pai a recuperar, só “Zé” Mourinho saberá o que sentiu nestes últimos dois anos. Susto com as recaídas, otimismo quando via Félix Mourinho mais forte e alegria ao deparar-se com a mãe a lutar ao lado do marido. Forte! Só que, este domingo, 25 de junho, o antigo guarda-redes e treinador não resistiu. Aos 79 anos.
Não chore, Zé. Como disse, na hora da despedida, um dos melhores amigos do seu pai, “morreu feliz”. E sabe porquê? Porque sempre foi um homem realizado ao calçar as luvas de guarda-redes ou a sentar-se no banco de suplentes a comandar equipas. Porque sempre esteve convicto de que, ao escolher a carreira de treinador, o filho estava a ir pelo melhor caminho. E porque sempre festejou e vibrou com os seus títulos. E foram 25, até hoje. Em 17 anos.
Zé, o seu pai partiu feliz porque foi campeão em todos os países onde treinou. E conquistou culturalmente Portugal, Inglaterra, Itália e Espanha. O velho Félix partiu feliz porque o filho revelou ser um treinador inteligente, com um discurso manipulador e sentido de humor. O técnico mais surpreendente que vi aparecer, pois para além de inovar nos treinos e na sua relação com o jogo, reinventou a mensagem.
Nunca os mind games (jogos da mente) foram tão badalados e nunca um treinador usou tanto as suas conferências de imprensa para atingir o adversário e a própria equipa. Mas nunca ninguém pareceu entrar em campo em vantagem como nestas quase duas décadas.
Zé, o velho Félix partiu feliz porque o filho revolucionou o conceito de treinador e tornou-se O Especial. Continue a ganhar e fique descansado. O seu pai partiu em paz.
E feliz!
Humberto Simões é jornalista e diretor da revista Nova Gente
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