A fada, o marquês e… a preta da Guiné
Quando eu era criança não havia hipermercados, nem lojas dos chineses, muito menos fatos de princesa prontos a vestir à venda por tuta e meia na drogaria da esquina. As fantasias eram improvisadas com o que havia em casa, costuradas por avós habilidosas, emprestadas entre vizinhos ou, na loucura, alugadas. Eu usei dois anos seguidos […]
Quando eu era criança não havia hipermercados, nem lojas dos chineses, muito menos fatos de princesa prontos a vestir à venda por tuta e meia na drogaria da esquina.
As fantasias eram improvisadas com o que havia em casa, costuradas por avós habilidosas, emprestadas entre vizinhos ou, na loucura, alugadas.
Eu usei dois anos seguidos um vestido azul de saia comprida, com armação, que fez as minhas delícias românticas. Magicamente transformado com os devidos acessórios, a “dama antiga” passou a “fada” no Carnaval seguinte. As fotografias no álbum de família provam que, naquela fatiota, eu era a miúda mais feliz do mundo, ao lado da minha irmã, exuberante, numa sevilhana.
Da minha memória também faz parte um concurso na paróquia em que fiquei em segundo lugar com uma rocambolesca máscara de Marquês de Pombal em cetim lilás.
Mas vivíamos nos politicamente incorretos anos ’70. Andávamos no carro sem cadeirinha, brincávamos na rua sozinhos, comíamos fritos e as pessoas fumavam em todo o lado. A selvajaria que se sabe.
Assim, também houve lugar para uma máscara de “africana” que hoje seria absolutamente inaceitável – saia de palha, colares de missangas coloridas, trancinhas, camisola e colãs pretos e bochechas esborratadas de carvão.
Incrível, não é? 🙂
Ana Prista | jornalista arrependida (mais sobre a autora AQUI)
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