O ser humano corre por vontade própria desde sempre, mas o atletismo enquanto desporto organizado existe há “quase” tanto tempo. Afinal, começou no ano 776 a. C., altura em que se realizaram na Grécia Antiga os primeiros Jogos Olímpicos.

Apesar de ser um dos desportos mais antigos de que há registo, o atletismo tem vindo a ser ultrapassado em popularidade por outras modalidades nos últimos séculos, como o futebol e os restantes desportos de equipa.

As modalidades oficiais de atletismo englobam todos os tipos de corrida, marcha, salto e lançamentos, e Portugal tem o bom hábito de se destacar pela positiva nos circuitos profissionais internacionais. Mas será que os atletas portugueses recebem o conhecimento que merecem “dentro de portas”?

A 24.ª Gala do Desporto de Portugal

Decorreu no passado mês de Janeiro a 24.ª Gala de Desporto de Portugal, que teve como objectivo premiar os desportistas nacionais de maior destaque em 2019. O evento aconteceu no Salão Preto e Prata do Casino Estoril e teve como grande surpresa a coroação da jovem corredora Mariana Machado na categoria de “Jovem Promessa do Ano”.

O prémio não foi surpreendente apenas pelo facto de João Félix – um dos mais célebres futebolistas do momento – ter sido ultrapassado, mas também porque Mariana Machado tinha recebido exactamente a mesma atribuição na Gala do Desporto de Portugal do ano passado.

Na lista de nomeados estiveram apenas outros dois atletas, candidatos aos prémios de “Atleta Masculino” e “Atleta Feminino”: João Vieira e Inês Henriques. No entanto, a equipa de atletismo do Sporting Clube de Portugal também teve direito a nomeação, neste caso na categoria de “Equipa do Ano”.

Para além de Mariana Machado, foram entregues prémios no casino em Portugal ao “Treinador do Ano” Paulo Jorge Pereira (na modalidade de andebol), ao “Atleta Masculino” Jorge Fonseca (Judo) e à “Atleta Feminina” Patrícia Sampaio (Judo). A Selecção Nacional de Hóquei em Patins recebeu a atribuição de “Equipa do Ano”.

Mariana Machado, o novo grande nome do atletismo português

Portugal é um país cheio de grandes atletas, mas não se via há muito tempo uma jovem com o potencial de Mariana Machado. Natural de Braga, a corredora representa o clube local e tem uma “treinadora” muito especial a apoiá-la desde a bancada: a mãe Albertina Machado.

Uma ex-atleta que chegou a representar Portugal nos Jogos Olímpicos, Albertina Machado tentou manter a filha longe da pista, por considerar que a carreira de um atleta profissional envolve um “grande sacrifício”. Mariana, no entanto, não conseguiu resistir ao apelo da modalidade, chegando mesmo a confessar que adora “a adrenalina da competição”.

Numa entrevista rápida ao jornal desportivo português Record, concedida após a participação nos Europeus de Corta-Mato de 2019, Mariana Machado falou acerca do escasso apoio que é oferecido aos atletas portugueses, e em especial àqueles que se dedicam a modalidades menos populares.

A jovem corredora desabafou dizendo que os atletas trabalham muito, “muito mais do que os futebolistas” e que apesar do apoio do Sporting Clube de Braga, “os clubes poderiam apostar mais no atletismo”. Mariana Machado, que se esforça por conciliar o mundo do desporto com um exigente curso de Medicina na Universidade do Minho, disse ainda estar “no limite das minhas indecisões, pois ninguém vive do atletismo. Muita gente com grande talento acaba por desistir”.

O atletismo em Portugal

Casos como o de Mariana Machado dão que pensar. Mesmo sendo uma das atletas portuguesas mais promissoras da modalidade na história recente do desporto português, a jovem corredora de Braga considera uma carreira profissional longe da pista.

Apesar da dupla distinção de Mariana na 23.ª e 23.ª Gala do Desporto de Portugal, os atletas nacionais são poucas vezes reconhecidos pelo grande público e mesmo pelas instituições desportivas portuguesas.

Tendo em conta os benefícios de actividades como a corrida e a marcha para a saúde pública, esperava-se mais das autoridades competentes. Mesmo assim, tem-se notado melhorias ao nível da consideração que é oferecida pela Gala do Desporto de Portugal às modalidades de atletismo. Inês Henriques levou para casa o prémio de “Atleta Feminino” do ano em 2017 e 2018, mesmo que um atleta não recebesse um prémio desde 2013.

Para os amantes de desporto e para aqueles que correm por prazer em particular, a situação actual do atletismo português é preocupante; não pela falta de grandes talentos que como Mariana Machado contrariam o favoritismo popular e financeiro do futebol e de outras modalidades, mas principalmente pelo escasso número de soluções institucionais que são apresentados aos atletas promissores que chegam a considerar uma carreira profissional.

Para já, é infelizmente ainda muito cedo para dizer se Mariana Machado será uma grande atleta (não que não o seja) ou uma excelente profissional de saúde.

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