Jorge Jesus. O homem que dividiu o país em dois e que hoje é visto de forma quase unânime

«Mister Jesus – 30 anos de uma carreira ímpar», de Rui Pedro Braz, pretende mostrar que o sucesso de Jorge Jesus não é por acaso.

São 52 clássicos disputados no futebol português, 124 jogos em competições europeias, 1121 jogos no total que estão espalhados pelas 272 páginas de uma obra que pretende mostrar que o sucesso de Jorge Jesus, no Brasil, não é por acaso. «Mister Jesus – 30 anos de uma carreira ímpar», de Rui Pedro Braz e com prefácio do antigo guarda-redes do Benfica e do Flamengo, Júlio César, foca-se sobretudo nos últimos 13 anos da carreira do técnico português que devolveu a glória ao Flamengo.

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Rui Pedro Braz explica como Jorge Jesus devolveu a glória ao Flamengo

«Fui contactado por uma editora do Brasil no momento em que Jorge Jesus foi contratado pelo Flamengo», começa por contar Rui Pedro Braz. «Acompanho o trabalho de Jorge Jesus há muitos anos e há esta coincidência feliz de a minha entrada na TVI coincidir com a fase em que o mister chega ao patamar mais alto da sua carreira, quando entra no Benfica. Tenho tudo sobre Jorge Jesus muito bem documentado, muito presente e aceitei o desafio», revela.

«A injustiça que se tinha cometido em duas finais europeias foi ali corrigida»

Rui Pedro Braz partilhou vários momentos com Jesus, «a última vez foi em Lima, na final da Libertadores». «Depois do jogo estive na festa do Flamengo. Pude dar-lhe os parabéns, perceber o quão feliz estava e partilhei dessa felicidade com ele», conta.

Para o autor, a conquista da Taça Libertadores foi quase uma ‘correção’ das finais da Liga Europa perdidas, ainda no Benfica, diante do Chelsea e do Sevilha. «A injustiça que se tinha cometido, no meu entender, em duas finais europeias que Jorge Jesus disputou e perdeu de forma muito injusta, tinha sido ali corrigida», confessa.

«Há um treinador que o mister admira muito que é Zdenek Zeman que tem uma expressão muito interessante que é: ‘O resultado é casual, o desempenho não’. Esta frase reflete muito bem aquilo que aconteceu com Jorge Jesus nas finais europeias que perdeu», considera o comentador.

Os convites do estrangeiro e a morte dos pais

O autor assume a tremenda admiração e respeito que tem pelo técnico e diz-se feliz «por perceber que esse respeito é mutuo e que essa consideração existe». Mas ressalva, «a minha admiração pelo mister atinge outros patamares».

«Poucas pessoas sabem alguns detalhes da vida do Jorge Jesus. Por exemplo, muita gente acha que ele nunca foi para o estrangeiro porque não teve convites e isso não é verdade. Houve convites do Mónaco, do AC Milan, do Valência, do Zenit e Jorge Jesus nunca aceitou porque é uma pessoa muito próxima da família», revela.

Jesus perdeu a mãe há cerca de 20 anos e «durante oito anos apenas usou roupa preta. Só deixou de vestir preto quando atingiu um patamar mais alto na sua carreira.» Nessa altura, o seu pai estava doente e foi aí que o técnico decidiu que enquanto o seu pai fosse vivo, não ia aceitar qualquer proposta do estrangeiro. «Foi para o Sporting quase como uma homenagem ao pai – Virgolino de Jesus foi jogador do Sporting entre os anos de 1943 e 1946 -,  e a forma como se emocionou no momento da sua apresentação em Alvalade demonstra isso mesmo. Quando sai do Benfica teve oportunidades para ir para o estrangeiro e não foi porque o seu pai era vivo. Depois acabou por falecer em em 2017 e Jorge Jesus vai para o estrangeiro – Al Hilal da Arábia Saudita – em 2018».

«O mesmo homem que dividiu o país em dois, hoje é visto de forma quase unânime»

A saída de Jorge Jesus do Benfica é um dos marcos registados neste livro. «A saída de Jesus do Benfica para o Sporting foi algo que marcou para sempre a história do futebol português porque não foi um treinador qualquer», considera Rui Pedro Braz, que esclarece: «Jesus não saiu do Benfica, ele foi empurrado para fora do Benfica».

Questionado sobre a possível existência de alguma mágoa por parte dos adeptos Encarnados, o autor recorre à velha máxima de «o tempo cura tudo». «Acho que já não há aquela mágoa por parte dos benfiquistas em relação ao Jorge Jesus até porque ele já admitiu que o melhor clube a nível de estrutura onde trabalhou foi no Benfica.»

Hoje, Jesus é visto de forma quase unânime no mundo do futebol português. «O mesmo homem que, há quatro anos, dividiu o país quase em dois, hoje é uma figura encarada de forma quase unânime. Benfiquistas, Sportinguistas, Portistas e até as pessoas que não ligam nenhuma ao futebol, não ficaram indiferentes ao que o mister está a fazer no Brasil», sublinha.

Texto: Joana Ferreira | Fotos: Helena Morais; Reuters; Lusa

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