Portugueses na Alemanha optam por dupla nacionalidade para poderem votar

Muitos portugueses a viver na Alemanha optam por dupla nacionalidade para poderem votar nas eleições gerais e para evitarem “papelada” numa altura em que Berlim facilita o processo de obtenção da cidadania.

Portugueses na Alemanha optam por dupla nacionalidade para poderem votar

“Há mais de oito anos que vivo e trabalho na Alemanha e pago os meus impostos cá e incomoda-me não poder votar, não ter uma palavra a dizer no que diz respeito à política e ao Governo, sendo que com os meus impostos financio as políticas desse Governo”, diz Maria Costa.

Também Diana Gonçalves Osterfeld, a viver em Berlim, admite que um dos motivos que a levou a pedir a dupla nacionalidade é o direito ao voto que pretende exercer “ainda mais tendo em conta o panorama político nacional”.

O Parlamento alemão aprovou em 19 de janeiro uma lei que facilita o processo de naturalização e amplia o acesso à dupla cidadania, sem necessidade de abdicar da original. O Governo, liderado por Olaf Scholz, espera que, desta forma, o país consiga atrair mais trabalhadores qualificados.

Os imigrantes a viver legalmente na Alemanha podem solicitar a cidadania depois de cinco anos a viver no país, anteriormente o prazo era de oito anos. Se for demonstrada uma integração excecional, como no domínio do idioma, em atividades voluntárias ou no desempenho escolar ou profissional, o tempo pode ser reduzido para três anos.

“Tudo o que facilite a integração de estrangeiros, seja encurtar o tempo de residência para o pedido de dupla nacionalidade ou outras medidas, como aulas de língua alemã grátis, por exemplo, é de louvar”, considera José Ponte.

Para este português a viver na Alemanha desde 2003, solicitar a nacionalidade alemã tem sentido por uma questão prática.

“Cada vez que necessito de tratar de um documento ou renovação do cartão do cidadão ou passaporte, tenho de me deslocar a Hamburgo onde há um consulado. Com a cidadania alemã, trato tudo no local onde vivo”, aponta.

Leonel Barbosa da Costa, enfermeiro português a viver na Alemanha, acredita que a mudança das regras na obtenção da cidadania alemã vai facilitar a vida aos cidadãos que não pertencem à União Europeia.

“A renovação dos vistos é uma tarefa árdua e chata. Muitos colegas ficam, por vezes, sem visto e não podem trabalhar até o terem”, sublinha, lamentando que o processo seja muito demorado.

Para Diana Moreira, a viver em Berlim há 10 anos, foi uma “decisão fácil”.

“No caso dos meus filhos, eles nasceram aqui e foram registados com nacionalidade portuguesa. Penso que dar-lhes também a nacionalidade alemã poderá ajudar no futuro, caso queiram estudar cá”, aponta, acrescentando que lhe agrada poder votar.

“Tomei conhecimento da redução do tempo mínimo de residência há pouco tempo, quando estive a ler os requisitos. Acho que faz sentido, uma vez que cinco anos já é bastante considerável. Quem vive cá há tanto tempo, deve poder ter direito ao voto, uma vez que influencia diretamente as vidas dessas pessoas”, salienta.

Helena Wildgeborene, que veio viver a primeira vez para a Alemanha em 1985, e que atualmente reside em Bremen, admite nunca ter querido ou precisado da nacionalidade alemã.

“Mas também sempre me chateei por não poder votar. Acho muito importante votar no país onde se vive. É mais importante que nunca”, realça, congratulando-se com a decisão do Governo de facilitar os requisitos de acesso à cidadania alemã.

“Muita gente está muito bem integrada e acho que tem o direito de poder ter a nacionalidade alemã se quiserem ou precisarem”, destaca.

Diana Gonçalves Osterfeld sublinha que a alteração é “bastante positiva” porque promove uma “integração mais rápida na sociedade”, mas lamenta a demora.

“Infelizmente os processos já estão tão atrasados, pelo menos aqui em Berlim, que acho que vai tornar a situação de pedidos de nacionalidade ainda mais congestionada”, realça.

As crianças nascidas na Alemanha, das quais pelo menos um dos pais esteja a viver legalmente no país há cinco anos ou mais, recebem automaticamente a cidadania alemã. O prazo era de oito anos.

“Nunca escolheria a nacionalidade alemã em prol da portuguesa, mas como há a possibilidade da dupla nacionalidade, achei que não perdia nada”, sustenta Catarina Vilar Markiewicz, que obteve a nacionalidade alemã há três anos.

“Já vivo há bastantes anos na Alemanha e, com o nascimento dos meus filhos, achei que facilitaria o processo de registo nas escolas”, declara, acrescentando que a instabilidade política e fragilidade atual da União Europeia também pesou na decisão.

 

JYD // VM

By Impala News / Lusa

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