Moçambique/Ataques: Moreira da Silva dá Cabo Delgado como exemplo do que o seu escritório na ONU quer fazer

O novo diretor-executivo do Escritório da ONU para Serviços de Projetos (Unops), Jorge Moreira da Silva, apontou hoje o apoio dado a Cabo Delgado, Moçambique, como exemplo das parcerias que quer implementar, unindo setores público e privado.

Moçambique/Ataques: Moreira da Silva dá Cabo Delgado como exemplo do que o seu escritório na ONU quer fazer

Em entrevista à ONU News, o antigo ministro português explicou que a “vantagem da Unops é esta triangulação entre o público e o privado” e que tem como mandato a “aumentar a capacidade de implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS] dos parceiros”.

“Ao contrário de outras agências que têm um mandato programático ou político, nós não temos. Nós, basicamente, estamos às ordens, ao serviço dos países em desenvolvimento, que desenham os seus projetos, com o apoio dos doadores, e nós estamos lá para concretizar”, explicou.

Exemplo disso é o projeto em Cabo Delgado, norte de Moçambique, palco de violência e de ataques de extremistas islâmicos, com ameaças “muito sérias à segurança” que deram “origem a um enorme fluxo de migrantes internos”, disse.

Trata-se de “uma zona muito instável que continua com níveis de instabilidade muito grandes”, afirmou, recordando que o Banco Mundial atribuiu 200 milhões de euros ao Unops para desenvolver “um conjunto de projetos em Cabo Delgado que são em simultâneo desenvolvimento e humanitário”.

De acordo com o dirigente, no plano humanitário, trata-se de “um apoio aos migrantes forçados, às pessoas que tiveram que sair de casa para outras partes do país para fugirem da guerra e do conflito”, a que se somam verbas para assegurar qualidade de vida e bem-estar, num acordo com o Estado moçambicano.

“Nós não desenhamos as políticas, nós estamos a jusante na concretização dos projetos. O financiamento é mobilizado, mas é necessário que alguém concretize”, ilustrou.

“Nós concretizamos e envolvemos o setor privado, em regra, tentamos envolver o setor privado local”, explicou.

Exemplo disso são as compras públicas destes projetos, que estão atribuídas, na sua maioria, a fornecedores de proximidade, “porque é uma forma de mobilizar a economia local”.

“Nós não estamos mobilizados apenas para as compras públicas ou infraestruturação. Nós queremos, com isso, criar contextos locais de desenvolvimento empresarial”, salientou Moreira da Silva.

Já em relação ao Brasil, há “uma grande expectativa” com a preparação da COP30 das alterações climáticas e a Unops tem “o maior interesse em contribuir para essa agenda” promovida pelo Presidente brasileiro, Lula da Silva, nomeadamente na área da energia.

“Há uma situação paradoxal” nesta área, como é o caso do “acesso à energia e o combate à pobreza e à descarbonização das economias”, salientou, dando o exemplo do continente africano.

“Setecentos milhões de cidadãos em África não têm acesso à eletricidade”, mas “60% do maior potencial de energia solar no mundo” está no continente, disse Moreira da Silva, apontando um novo paradoxo no “continente com a maior falta de acesso à energia, com o maior potencial de desenvolvimento de energia solar e com uma ínfima parte do investimento global” na área da energia.

No caso dos Estados insulares de pequena dimensão, “como Cabo Verde e Timor-Leste”, esses países “são fortemente ameaçados pelas consequências das mudanças climática” e “deparam-se com problemas económicos, sociais, migratórios, além do problema climático”.

Parece-me evidente que, no tem a ver com infraestruturação, tende a haver uma grande aposta nos Estados insulares e a Unops está muito vocacionada para isso”, até porque há uma correlação direta entre estas questões, no quadro dos ODS.

“Se fizermos infraestruturação certa, descarbonizando, tornando-a mais justa, mais inclusiva, mais acessível, podemos cumprir os ODS. Se continuarmos num cenário de continuidade de hoje, não cumpriremos os ODS”, resumiu.

PJA // JH

By Impala News / Lusa

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