Cinco mortos em ataques das forças da ordem na Nicarágua

Pelo menos cinco pessoas, entre as quais um bebé de 15 meses, foram mortas hoje durante operações das forças policiais e paramilitares em Manágua, indicou um grupo de defesa dos direitos humanos.

Cinco mortos em ataques das forças da ordem na Nicarágua

Pelo menos cinco manifestantes, entre as quais um bebé de 15 meses, foram mortos hoje durante operações das forças policiais e paramilitares em Manágua, indicou um grupo de defesa dos direitos humanos.

“Estamos a falar de cinco mortos, incluindo uma criança, mas poderá haver mais”, declarou Georgina Ruiz, membro do Centro Nicaraguense dos Direitos Humanos (CENIDH), citada pela agência francesa AFP, precisando que duas das vítimas foram mortas na zona da Universidade Nacional Autónoma da Nicarágua (UNAN), onde estudantes se entrincheiraram para protestar contra o Governo do Presidente Daniel Ortega.

As forças policiais e paramilitares lançaram hoje de manhã um ataque contra estes estudantes entrincheirados em instalações da UNAN, no sudoeste de Manágua, bem como em bairros do leste da capital, segundo o testemunho de estudantes confirmado por defensores dos direitos humanos.

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“Eles estão a atacar-nos desde a uma da manhã. Há também franco-atiradores, nós estamos nas barricadas. Temos 14 feridos e dois mortos”, disse um jovem de rosto coberto por um lenço, numa transmissão em direto na rede social Facebook, onde se pode vê-lo com outros jovens enquanto se ouvem tiros.

Várias organizações de defesa dos direitos humanos condenaram estes ataques, acusando o Governo de reprimir violentamente as manifestações.

“O Governo de Ortega continua a reprimir e a assassinar jovens”, escreveu hoje na rede social Twitter o CENIDH.

Uma coligação de grupos da oposição da sociedade civil anunciou suspender uma “marcha das flores” em memória das vítimas da repressão, programada para a tarde de hoje na capital.

“De comum acordo, decidimos adiar a marcha de Las Flores enquanto aguardamos a chegada ao país de organizações internacionais”, declarou Luciano Garcia, membro da Aliança Cívica para a Justiça e a Democracia, uma coligação de opositores.

O grupo instou, contudo, “todos os setores da sociedade a cumprirem uma greve de 48 horas” nos próximos dias. Uma greve geral paralisou já a Nicarágua a 14 de junho.

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A Conferência Episcopal da Nicarágua (CNE) anunciou o envio de uma delegação de padres para avaliar a situação.

“Acabem com os ataques, com esta vaga de violência”, implorou um padre, Raul Zamora, à universidade.

As cinco vítimas mortais de hoje vêm somar-se ao balanço de 212 mortos em consequência da repressão das manifestações contra o Governo nicaraguense divulgado na sexta-feira pela Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH).

“A ação repressiva do Estado fez pelo menos 212 mortos e 1.337 feridos até 19 de junho, [em pouco mais de dois meses, e] até 06 de junho mais de 500 pessoas foram detidas”, indicou a CIDH, ao apresentar o seu relatório final sobre a crise na Nicarágua, no Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA), numa sessão transmitida em direto pela televisão nicaraguense.

A CIDH concluiu que “a violência estatal visava dissuadir a participação nas manifestações e a sufocar essa expressão de oposição política”, no documento com cerca de uma centena de páginas apresentado na sessão extraordinária daquele órgão da OEA, e instou ainda o Governo nicaraguense a “encontrar uma solução constitucional, democrática e pacífica para esta crise dos direitos humanos”.

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O diálogo nacional destinado a encontrar uma solução para a crise nicaraguense foi suspenso na passada segunda-feira, devido aos constantes incumprimentos do Governo dos compromissos assumidos com a Aliança Cívica para a Justiça e a Democracia.

Desde 18 de abril, a Nicarágua está mergulhada na crise sociopolítica mais sangrenta ocorrida desde os anos 1980, também com Daniel Ortega como Presidente.

Os protestos contra Ortega e a mulher, a vice-presidente Rosario Murillo, começaram por causa de reformas na segurança social e transformaram-se depois em exigências de demissão do chefe de Estado, alvo de acusações de abuso de poder e corrupção, após 11 anos no poder.

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