Amnistia de catalães aprovada com maioria absoluta na primeira votação no parlamento espanhol

O parlamento de Espanha aprovou hoje, numa primeira votação, a amnistia de independentistas catalães que consta dos acordos que viabilizaram um novo governo do socialista Pedro Sánchez no mês passado.

Amnistia de catalães aprovada com maioria absoluta na primeira votação no parlamento espanhol

A proposta de “lei de amnistia para a normalização institucional, política e social na Catalunha”, apresentada pelo Partido socialista Operário espanhol (PSOE), foi aprovada por uma maioria absoluta de 178 dos 350 deputados.

Votaram a favor o PSOE e o Somar (que estão na coligação de Governo), a Esquerda Republicana da Catalunha e o Juntos pela Catalunha (que acordaram a amnistia com os socialistas), os bascos EH Bildu e Partido Nacionalista Basco e o Bloco Nacionalista Galego.

A amnistia abrangerá pessoas envolvidas no movimento de autodeterminação da Catalunha entre 2012 e 2023, que culminou numa declaração unilateral de independência em 2017.

O PSOE estima que perto de 400 pessoas sejam amnistiadas, entre dirigentes políticos, funcionários públicos, diretores de escolas ou polícias, estes últimos com processos por causa da atuação na resposta a manifestações e outras iniciativas do movimento independentista.

A amnistia tem sido contestada nas ruas, pelos partidos da direita e por diversos setores, incluindo associações de juízes e procuradores, que dizem estar em causa o Estado de Direito e o princípio da separação de poderes. A Comissão Europeia pediu também a Espanha informações sobre a futura lei.

As manifestações têm mobilizado milhares de pessoas (em alguns casos, centenas de milhar), mas não houve protestos nas ruas hoje, dia em que a amnistia chegou ao parlamento.

A votação de hoje não foi a definitiva e abre-se agora um período de apreciação parlamentar em que a lei poderá incorporar alterações, antes da votação final.

O debate de hoje ficou marcado pela ausência de Pedro Sánchez, com a defesa da lei a caber ao líder parlamentar dos socialistas, Patxi López, que insistiu nos argumentos que o PSOE tem apresentado nas últimas semanas.

Patxi López disse que a amnistia vai devolver à política a resolução de um problema político e é coerente com passos dados na última legislatura, como os indultos a independentistas, que “deram frutos e funcionaram” ao “desinflamarem” a crise na Catalunha, onde atualmente há convivência e diálogo, ao contrário do que acontecia em 2017, quando governava o Partido Popular (PP, direita).

Sobre a legalidade da amnistia, Patxi López disse que só o Tribunal Constitucional a poderá certificar, mas realçou que a própria Constituição e a democracia espanholas nasceram de uma amnistia de 1977 que visou, como a atual, “superar um passado de confrontação”, uma “rutura de uns contra outros”, e abrir um novo tempo de convivência.

O socialista defendeu também que a amnistia é compatível com o direito europeu e há registo de dezenas de amnistias em países da União Europeia (UE).

Já o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, considerou a amnistia “uma vergonha nacional e um embaraço internacional”, que o próprio PSOE rejeitava até às últimas eleições, em 23 de julho.

“É o primeiro pagamento de uma investidura que compraram”, disse Feijóo, que considerou o plenário de hoje “o mais triste e decadente” do parlamento espanhol em 40 anos.

Feijóo reiterou as críticas de ataque à separação de poderes e considerou que esta amnistia não tem paralelo com outra em países da UE, por se destinar a políticos e ter sido negociada por pessoas que se vão beneficiar dela.

Uma das pessoas que negociou a amnistia com o PSOE foi Carles Puigdemont, presidente do governo regional catalão em 2017 e que vive desde esse ano na Bélgica para fugir à justiça espanhola.

O deputado Josep María Carrera, do partido de Puigdemont (Juntos pela Catalunha), disse hoje que a amnistia “acaba com a judicialização da política” e com “a repressão”, permitindo aos visados “voltar a fazer política” em nome de “uma causa legítima”.

“Em nenhum caso é uma renúncia à independência”, disse.

MP // RBF

By Impala News / Lusa

Impala Instagram


RELACIONADOS