Filha de Woody Allen revela toda a verdade sobre os abusos sexuais

26 anos depois de ter sido alegadamente abusada pelo pai, o realizador Woody Allen, Dylan Farrow fala pela primeira vez sobre os acontecimentos. Atores já começaram a demarcar-se do realizador de 82 anos.

A história é antiga mas só agora será contada na primeira pessoa. Esta quinta-feira, Dylan Farrow falará pela primeira vez sobre os alegados abusos sexuais de que foi alvo por parte do pai, o cineasta Woody Allen.

Dylan, filha adotiva da atriz Mia Farrow e de Woody Allen, foi entrevistada pela jornalista Gayle King esta segunda-feira, 15 de janeiro. A entrevista completa é exibida esta quinta-feira à noite nos Estados Unidos, na CBS.

In her first TV interview, Dylan Farrow talks with Gayle King about her allegations that she was sexually abused by her father, Woody Allen, and discusses Hollywood's #TimesUp movement.CBS Thursday 7-9am: cbsn.ws/2DgxaI1

Publié par CBS This Morning sur mardi 16 Janvier 2018

Nas primeiras imagens reveladas, quando questionada se a intenção é «destruir» o pai, Dylan responde:

«Porque é que não haveria de o querer fazer? Porque é que que não posso estar magoada? Porque é que não posso sentir uma certa revolta por, ao longo destes anos, me ter sentido ignorada, desacreditada e atirada para um canto?»

A filha adotiva de Mia Farrow e Woody Allen disse ainda que vai apenas «dizer a sua verdade».

 

«Sou credível e estou a dizer a verdade. Penso que é importante que as pessoas percebam que uma vítima, uma acusação, tem importância e que isso basta para mudar as coisas.»

Dylan foi adotada por Mia Farrow com apenas duas semanas de vida, em 1985, tendo sido depois co-adotada pelo realizador de cinema, na altura companheiro de Farrow. Á época, Mia Farrow tinha já três filhos biológicos (Matthew, Sacha e Fletcher) e três adotivos (Lark Song, Summer Song e Soon-Yi, esta última que viria mais tarde a tornar-se mulher de Woody Allen).

O primeiro relato dos abusos sexuais alegadamente levados a cabo por Allen surgem em 1992. Dylan tinha sete anos. O caso foi reportado às autoridades e chegou mesmo aos tribunais. No entanto, em 1993, Woody Allen foi ilibado das acusações por não terem sido encontradas provas dos alegados abusos. Dylan, no entanto, nunca foi examinada por um médico. O tribunal disse ainda que Mia Farrow teria induzido a filha a criar uma narrativa falsa e que teria agido por despeito, depois de ter descoberto o caso de Woody Allen com a filha adotiva, Soo-Yi.

O caso cairia no esquecimento público até 2014. Através de uma carta aberta, publicada no The New York Times, Dylan contava com pormenores que podem incomodar os mais sensíveis, o que Allen lhe fazia, como e quando.

«Eu tinha sete anos, Woody Allen levou-me pela mão para o sótão, no segundo andar da nossa casa. Ele disse-me para me deitar de barriga para baixo e para brincar com o comboio eléctrico do meu irmão. Depois abusou sexualmente de mim. Falou enquanto o fazia, sussurrando que eu era uma menina bonita, que este era o nosso segredo. Prometeu-me que iríamos a Paris e que eu seria estrela dos seus filmes».

Dylan relata ainda que os abusos continuaram frequentemente, em paralelo com a «relação de natureza sexual» que Allen mantinha com a outra filha adotiva, Soo-Yi. A filha de Mia Farrow explica também que os abusos, o facto de a justiça ter ilibado o pai e de Hollywood ter feito vista grossa a este caso a marcariam durante a adolescência.

«O facto de ele ter saído impune assombrou-me durante o meu crescimento. Senti-me assoberbada de culpa por ter permitido que ele estivesse perto de outras meninas. Eu tinha pavor de ser tocada por homens. Devolvi uma pertubação alimentar. Comecei a cortar-me».

Quatro anos depois desta carta, Woody Allen continua a realizar filmes e a ter a nata de Hollywood como protagonista dos seus argumentos. «A Rainy Day in New York», que chega aos cinemas ainda este ano, conta com Selena Gomez, Elle Fanning, Jude Law, Diego Luna e Liev Schreiber nos principais papéis.

 

Atores doam salários de filmes vítimas de abusos sexuais

Talvez encorajada pelo movimento #TimesUp, criado por vários nomes poderosos de Hollywood em resposta às inúmeras denúncias de casos de abusos e assédio sexual, Dylan decidiu, agora, falar de viva voz sobre o seu caso.

E os atores que trabalharam recentemente com Woody Allen estão a demarcar-se do realizador. Rebecca Hall e Timothée Chalamet anunciaram esta terça-feira, 16 de janeiro, que vão doar os respetivos cachês do filme «A Rainy Day in New York» a organizações de apoio a vítimas de abusos sexuais. Isto depois de, em outubro passado, Griffin Newman, que também faz parte do elenco da trama, ter admitido publicamente estar arrependido por trabalhar com Woody Allen.

Num debate sobre o movimento #TimesUp, Oprah Winfrey colocou a várias atrizes a questão: «O tempo de Woody Allen acabou?».

Natalie Portman foi a única a responder de viva voz: «eu acredito em ti, Dylan».

Depois, nomes como Susan Sarandon, Evan Rachel Wood e Jessica Chastain já vieram a público dizer que não voltarão a trabalhar com o realizador de 82 anos.

Depois de anos de silêncio, de humilhação pública, de ver a sua história desacreditada, Dylan Farrow poderá, esta quinta-feira, ter alguma espécie de justiça ou de paz.

Texto: Raquel Costa | Fotos: Impala, Reuters e CBS

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