Pais separados juntam-se no Natal em prol da união familiar

O amor acabou! Mas ficou a amizade! Cada um seguiu o seu caminho, mas o facto de se darem bem, faz com que nesta época festiva alguns pais se juntem para passar o Natal com filhos.

Pais separados juntam-se no Natal em prol da união familiar

Natal é sinónimo de harmonia e união. São muitas as famílias que se reúnem e se sentam à mesa para momentos de alegria e de partilha. Mas nem sempre esta situação é plausível em algumas casas.

Os filhos de pais separados, geralmente, não passam esta época festiva junto dos seus progenitores, não tendo a respetiva família unida na mesma casa.

Mas há exceções. Nos dias de hoje são várias as famílias que querem manter a tradição e, para o bem-estar de todos, apesar das separações, há quem opte por se unir aos seus ex-companheiros, para passar o Natal junto dos filhos. Confuso? Então conheça a família Paixão Brás!

 

Joana Paixão Brás tem 31 anos e viu os seus pais seguirem caminhos diferentes quando tinha 26 anos. «Apesar de já ser adulta na altura e de já não viver com eles, passava muitos fins-de-semana e férias com eles. Éramos uma família muito unida e custa sempre saber que os nossos pais, enquanto casal, foram um projeto que falhou. Custa imaginá-los cada um para seu lado. Felizmente, sempre foram ‘uns senhores’, sempre resolveram tudo sem deixar mágoas, sempre tiveram sensibilidade para gerir este assunto, sem nos fazerem tomar parte. Uns pais maravilhosos que sempre souberam gerir a separação e o divórcio sem deixarem mazelas nos filhos. Era bom que todos os pais separados conseguissem ter esta sensatez», conta a account numa agência de comunicação e blogger no A Mãe é que Sabe.

Joana Paixão Brás é uma das mentoras do blog, A Mãe É Que Sabe

 

Os progenitores de Joana são Fernando Brás e Isabel Paixão. Separaram-se há cerca de cinco anos. São pais de dois filhos já adultos, a Joana e o Frederico, de 29 anos, e avós de duas netas, Isabel, de três e Luísa de um ano. Apesar de cada um ter seguido a sua vida, fazem questão de partilhar todos os momentos de família juntos. E o Natal é exemplo disso. Situação que sempre foi do agrado dos filhos.

Fernando Brás, com a neta mais velha, Isabel
Isabel Paixão, com as netas, Isabel e Luísa

 

«Nem sei bem de quem terá partido a ideia, por ter sido algo tão natural, como se mais nenhuma outra opção fizesse sentido. Mas talvez tenha sido a minha mãe a dizer-me que podia convidar o meu pai (e o meu avô). A noite de Natal era lá em casa, com tios, primos, avós, há muitos anos. Nunca me fez confusão continuar a ter os meus pais juntos nos momentos mais importantes da minha vida (no Natal, nos nossos aniversários, no aniversário das minhas filhas). Era sinal de que tudo tinha acabado de uma forma serena, era sinal de que eles punham e põem o nosso bem-estar e felicidade acima de qualquer outra coisa e não nos faziam ter de optar. Em nossa casa, a consoada sempre foi o momento mais importante da celebração do Natal e, sinceramente, ter de abdicar de um deles ser-me-ia difícil (além de toda a logística, a somar à que já existe com a família do meu marido, que temos de coordenar). Nunca tivemos de o fazer e isso é uma felicidade tremenda. Claro que é muito importante o facto de que eles se davam e se dão bem. Não vejo nada de positivo em dois pais separados, com quezílias durante o ano inteiro ou com muitos assuntos por resolver, passarem o Natal juntos só porque sim. Tem de fazer sentido no histórico da relação, têm de estar ambos bem resolvidos, tem de ser coerente e tem de fazer sentido para todos», garante, Joana.

E dessa opinião também é Paula Agostinho, psicóloga clínica. «Se as coisas estiverem bem resolvidas em termos de sentimentos, se os filhos perceberem que os pais têm vidas diferentes, mas que está tudo bem resolvido e que realmente passam a época festiva para estarem juntos, para não haver uma separação dos miúdos com os pais, acho que é o cordial. É bom para a criança e para os pais. Escusam de se dividir. Sabem que estão numa relação de família e amizade. Quando as coisas não estão bem resolvidas e há conflitos entre os pais, os filhos acabam por não perceber o que é que se passa e se realmente estão apenas porque é uma época festiva e que ainda há misturas de sentimentos, acho que não deveriam estar », explica.

Já a mãe, Isabel, garante que «tudo aconteceu com a maior naturalidade.» «Disse ao pai dos meus filhos, que viesse passar a noite da consoada connosco. Não teria sentido nenhum não ser assim. O que considero triste é que uma família que coabitou anos e anos não consiga estar junta em momentos tão importantes como é o Natal.», garante.

 

Caminhos separados, família unida no Natal… e não só!

 

Fernando, pai de Joana, explica como surgiu a ideia de, mesmo separado da sua companheira de vários anos, passarem o Natal juntos. «Aconteceu de forma muito natural e pragmática, seria muito difícil encontrar outro dia sobrante nesta quadra do Natal para que cada um de nós, individualmente, partilhasse com os filhos esta quadra, atendendo a que todas as famílias ‘reivindicam’ a companhia dos seus. Assim, temos o privilégio de passar o dia 24 com os filhos e as netas», diz o advogado, que garante nunca ter notado estranheza por parte dos seus amigos, pelo facto de passar esta quadra junto da sua ex-mulher. E a sua nova família? Como é a reação em relação a este assunto? «É uma questão que não se colocou, mas reconheço que possa trazer alguns transtornos. Mas a antecipação de cenários não faz parte da minha personalidade», revela.

Já com a mãe de Joana, a situação é um pouco diferente. «De facto as ‘novas famílias’ não são mais que recomposições, alterações de dinâmicas emocionais e sociais. Apesar de na minha família existir um ‘mindset’ aberto a essas alterações, legado que agradeço pois abre portas aos nossos corações trazendo-nos uma maior flexibilidade de adaptação às novas situações, a família do meu namorado, por exemplo, ainda não está preparada para estas mudanças», realça a professora de filosofia/psicologia do ensino secundário.

A psicóloga clínica, Paula Agostinho também tem uma palavra a dizer em relação a este assunto: «Se têm novas famílias e se, ao longo do ano comunicam e até se encontra em almoços e jantares, ou num fim de semana, e depois se juntam novamente no dia de Natal, não vejo problema. Agora se ao longo do ano têm uma nova família e depois não se relacionam com a mãe ou com o pai e depois se juntam só nesse dia, é um bocadinho confuso para os filhos.»

 

Mudanças familiares

 

O facto de haver um divórcio, faz com que cada elemento crie o seu próprio caminho. Mas não meterá confusão aos filhos – neste caso já adultos -, o facto dos pais passarem o Natal juntos? Joana Paixão Brás é perentória na resposta:

«Tal como em tudo na vida, ponderação e bom-senso é, para mim, a melhor opção e sobretudo, tem de fazer sentido na dinâmica do ex-casal e da família. Se for feito com naturalidade, com amor e com coração, não vejo grandes motivos por que possa ser prejudicial (ou mais prejudicial do que outra decisão qualquer). Acredito, sim, que possa ser motivo de confusão na cabeça dos filhos, se pequenos, e que não seja o melhor para as expectativas dos mesmos. Mas deve ser avaliado caso a caso. Depende da idade dos filhos, depende de como tudo decorreu, de como é a relação dos pais, se ficaram amigos ou não, se têm namorados ou não e se todos concordam, mas com muita conversa, com muita calma, se os pais acharem que faz sentido, penso ser preferível a muitas outras situações.»

A psicóloga clínica garante que «se os pais não se dão bem durante o ano inteiro e se existem conflitos, não faz sentido se juntarem no Natal», porque na realidade, «acaba haver sempre um sentido de insegurança, instabilidade e uma tensão nervosa».

 

Joana com o pai

 

E no que diz respeito a esta família ser um exemplo a seguir, o pai, Fernando, não é dessa opinião:

«Sinto apenas que quero aproveitar todos os momentos com os meus filhos e netas e que tenho imensa sorte de ter uma grande e infindável amiga, que é mãe deles. O casamento não foi para toda a vida, como prometemos um dia, mas a nossa amizade é eterna.» Joana, emocionada com as palavras do pai, diz que os seus progenitores são o seu «maior orgulho». «Geriram sempre tudo tão bem… Nunca entraram em conflito nem em tensões que nos envolvessem a nós, filhos. Nem todos os ex-casais têm esse discernimento. E também porque são os dois os maiores, porque têm um coração gigante que sabe ver e sentir o que é mais importante na vida, e são os melhores avós do mundo, que assim podem desfrutar das netinhas a cada Natal (e não só, claro!). »

E Isabel também garante que  não quer ser exemplo para ninguém: «Só tenho pretensões de ser e fazer os outros felizes, principalmente as minhas netas e filhos. » E o facto de continuar a ter uma relação próxima com o ex-marido, pode parecer um pouco estranho para a sociedade, mas para esta família, só faz sentido assim «É uma relação cordial de amizade. Para mim, não poderia ser de outra forma, para quem viveu 30 anos juntos. Mas, sem falsas modéstias, contribuiu o facto de não sermos pessoas rancorosas e apesar das dificuldades, estarmos de bem com a vida», assegura.

 

Joana Paixão Brás com o marido, David, e as duas filhas, Isabel e Luísa

O Natal da Joana, do seu marido, David, do seu irmão, Frederico, da mãe, Isabel, da Luísa, da Isabel, dos tios, primos, da avó Rosel, é, segundo o pai, Fernando Brás, «barulhento», mas é, acima de tudo, «o retrato de uma família feliz». «A ‘mãe é que sabe’, o ‘pai é que sabe’ e, desde que estejamos todos felizes, é o que interessa. Alguns amigos meus acham ótimo os meus pais estarem separados e passarem o Natal juntos, e os que porventura não achem, não se pronunciam e ainda bem (risos)», finaliza, Joana.

 

Textos: Andreia Costinha de Miranda; Fotos: Gentilmente cedidas por Joana Sepulveda Bandeira e Joana Paixão Brás

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