Etiópia foi palco em 2022 do conflito armado interno mais mortífero desde o Ruanda, segundo um estudo

A Etiópia foi em 2022 o palco do conflito armado mais mortífero em todo o mundo desde o genocídio do Ruanda em 1994, com mais de 104 mil mortes registadas na guerra do Tigray, no norte do país.

Etiópia foi palco em 2022 do conflito armado interno mais mortífero desde o Ruanda, segundo um estudo

De acordo com o Índice Global da Paz (IGP), elaborado pelo Institute for Economics and Peace (IEP), “os combates entre as Forças de Defesa da Etiópia, a aliada Eritreia e o grupo rebelde TPLF [Frente Popular de Libertação do Tigray, na sigla em inglês] são o acontecimento mais mortífero desde 1994”, segundo o estudo do instituto de análise australiano divulgado esta quarta-feira, somando mais mortes do que as 82.000 estimadas na Ucrânia.

A região de Tigray, estado etíope no norte do país, assistiu às mais graves batalhas de guerra em todo o mundo, com mais de 104.000 pessoas mortas entre agosto e novembro de 2022, antes das tréguas assinadas entre o Governo etíope e a TPLF.

O IEP assinala que a violência decorrente de um conflito separado também aumentou em Oromia, o estado natal do primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmned, durante 2022.

Outra das notas mais expressivas no quadro da degradação da África Subsariana no IGP vai para o Mali, onde as mortes relacionadas com conflitos aumentaram 154% em 2022, com a violência contra civis a aumentar 570%.

“A violência no Mali aumentou depois de a França ter retirado as suas forças do país. O Mali registou um aumento de 154% nas mortes relacionadas com o conflito, incluindo um aumento de quase quatro vezes nas mortes por violência dirigida contra civis. Em 2022, registaram-se quase 5.000 mortes no campo de batalha”, escreve o IEP.

Em contrapartida, a costa ocidental de África é um “exemplo de um ciclo virtuoso de paz”, em que os países melhoraram as suas pontuações no IGP nos últimos 15 anos, apesar da violência generalizada na região vizinha do Sahel e de um forte historial de conflitos violentos, sublinha o relatório.

Com exceção da Guiné Conacri, todos os países costeiros da África Ocidental registaram uma melhoria da paz entre 2008 e 2023.

O grupo de países costeiros da África Ocidental “registou uma melhoria da paz global, apesar de um historial de conflitos, de instabilidade política e de um aumento dos conflitos violentos e do terrorismo na região vizinha do Sahel. Em 2022, não se registaram mortes por terrorismo nesta região”, aponta o estudo.

“As melhorias na governação e na estabilidade política, bem como o aumento dos recursos destinados ao policiamento e aos serviços de segurança, desempenharam um papel fundamental no aumento da paz”, explica o IEP.

Atualmente, existem 15 países onde, pelo menos, 5% da população é refugiada ou deslocada internamente. A Síria lidera este grupo com 61% da sua população deslocada, mas no continente africano o Sudão do Sul, com mais de 42% da população refugiada ou deslocada, a Somália e a República Centro-Africana, ambas com mais de 20% de deslocados, lideram o grupo dos cinco países mais afetados por este flagelo. Só a Ucrânia se interpõe neste subgrupo com mais de 30% de deslocados ou refugiados resultantes da invasão russa em fevereiro de 2022.

Os cinco países africanos com os melhores posicionamentos no índice são as Maurícias (23ª posição), o Botswana (42ª), Serra Leoa (47ª), Senegal (52ª) e Madagáscar (55ª). Para além destes, mais três países da África Subsariana aparecem na “zona verde” do IGP – Namíbia, Gâmbia e Zâmbia.

Em contrapartida, entre os 12 países com o pior registo nos 23 indicadores que compõem o IGP, seis são da África Subsariana – República Centro-Africana, Mali, Sudão, Somália, República Democrática do Congo (RDCongo) e Sudão do Sul.

O subcontinente registou uma ligeira queda no IGP, com a pontuação média a deteriorar-se em 0,57%. Dos 44 países da África Subsariana, 21 melhoraram a sua pontuação, enquanto 22 caíram no índice e um permaneceu inalterado.

A região é menos pacífica do que a média global nos domínios da Segurança e Proteção e dos Conflitos em Curso, mas mais pacífica do que a média global no domínio da Militarização.

A deterioração global da pontuação na África Subsariana foi motivada por aumentos nos indicadores relativos aos Conflitos Internos e Conflitos Externos, bem como por um aumento no indicador das Manifestações Violentas.

APL // PJA

By Impala News / Lusa

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