Cientistas corrigem em embriões humanos mutação genética que causa doença cardíaca

Cientistas corrigiram, pela primeira vez, em embriões humanos uma mutação do gene responsável por uma doença cardíaca hereditária, recorrendo a uma técnica de edição genética, divulgou a revista Nature.

Cientistas corrigem em embriões humanos mutação genética que causa doença cardíaca

Cientistas corrigiram, pela primeira vez, em embriões humanos uma mutação do gene responsável por uma doença cardíaca hereditária, recorrendo a uma técnica de edição genética, divulgou hoje a revista Nature.

A técnica, que usa o sistema de edição genética CRISPR-Cas9, corrigiu o erro na fase mais precoce do desenvolvimento do embrião, evitando a transmissão do gene que causa a miocardiopatia hipertrófica (doença do músculo cardíaco) a novas gerações.

Os investigadores asseguram ter cumprido todas as considerações éticas da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos sobre técnicas de edição genética (as experiências realizaram-se neste país em centros especializados).

O artigo da Nature, que reproduz resultados ainda preliminares, ressalva que os embriões se mantiveram vivos durante poucos dias e nunca se desenvolveram com o intuito de serem implantados.

A técnica de edição genética CRISPR-Cas9 permite cortar o genoma (informação genética codificada no ADN) onde se quer para depois repará-lo, com ‘tesouras’ moleculares constituídas por proteínas e pequenas sequências de moléculas de ARN (ácido ribonucleico, que é responsável pela síntese de proteínas da célula).

Não é a primeira vez que cientistas fazem edição de genes em embriões humanos. Investigadores chineses já o tinham feito.

Mas é a primeira vez que tal acontece nos Estados Unidos, com resultados que demonstram que o procedimento é “mais eficaz e seguro”, segundo a equipa internacional de investigadores, que inclui espanhóis.

Além disso, acrescentam os cientistas, a metodologia usada favorece o desenvolvimento de embriões sãos. Nas experiências foram gerados embriões novos, não tendo sido utilizados embriões que sobraram de processos de fecundação ‘in vitro’.

Os investigadores produziram zigotos (células que originam o embrião) fertilizando ovócitos sãos com esperma de um dador portador de uma mutação no gene MYBPC3, que causa a miocardiopatia hipertrófica, condição que provoca, por exemplo, a morte súbita de atletas.

Quem é portador de uma cópia deste gene mutado tem 50 por cento de probabilidade de o transmitir aos seus filhos.

A técnica CRISPR-Cas9 foi usada em dois momentos: após a fecundação, tal como sucedeu em investigações anteriores, mas também, de forma inédita, antes, enquanto era introduzido o esperma no óvulo, tendo este último método provocado resultados mais surpreendentes, de acordo com os autores do estudo. Depois de CRISPR-Cas9 fazer o ‘corta e cola’, o embrião iniciou as suas próprias reparações, mas, em vez de utilizar a cadeia de moléculas de ADN (material genético) sintético administrado, fê-lo usando preferencialmente a cópia saudável do gene herdada da mãe.

Quando se corrige um gene como o MYBPC3 são ativados sistemas de reparação nas células.

Nas experiências reportadas pela Nature, os cientistas não só repararam uma percentagem elevada de células embrionárias, como a correção produzida não induziu outras mutações genéticas nem instabilidade no genoma: 72 por cento dos embriões ‘herdaram’ duas cópias sãs do gene.

A equipa científica considera que o diagnóstico genético pré-implantacional – que estuda os embriões antes de serem implantados – é uma fórmula válida para evitar embriões com mutações genéticas.

Contudo, entendem que o novo trabalho contribui para melhorar as fecundações ‘in vitro’, ao aumentar o número de embriões saudáveis que seriam implantados.

 

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