Júlia Resende mostrou ser uma mulher com um coração do tamanho no mundo ao participar no programa Amigos Improváveis, na SIC. A mulher de Nel Monteiro acolheu Bruno e Luís como se fossem filhos biológicos e este amor vem de uma infância que nem sempre foi fácil.

N’O Programa da Cristina, esta quarta-feira, dia 22 de abril, Júlia abriu o coração à apresentadora e explicou o porquê de ser uma mãe repleta de amor para dar. «Somos todos unidos. Somos oito filhos, portanto, fomos habituados a estar sempre juntos. Felizmente, a nossa mãe continua cá para nos alegrar. Já tem 91 anos», começou por contar.

Numa conversa em que as lágrimas não faltaram, a mulher do cantor contou a Cristina Ferreira que chegou a faltar comida em casa. «Quando se vem de uma família muito humilde, valha-nos ao menos o amor. Pode-se passar fome, porque se passou, mas havia sempre carinho, abraços e beijinhos.»

Nascida em Vale Maior, Albergaria-a-Velha, em Aveiro, Júlia Resende é a sétima de oito irmãos. O pai, que era o sustento da família, sofreu um acidente e a mãe teve de ir trabalhar. «O meu pai trabalhava na fábrica de papel, entretanto, teve um acidente e ficou entrevado. Ficou numa cadeira de rodas. A minha mãe teve de se fazer à vida e teve de começar a trabalhar naquilo que podia.»

«As minhas irmãs mais velhas iam pedir»
Por vezes, esse dinheiro não chegava e as irmãs tinham de ir pedir. «Quando não havia dinheiro, as minhas irmãs mais velhas iam pedir às vizinhas. Tenho orgulho das minhas irmãs, da minha mãe, do meu pai. Eu tinha quatro anos [quando morreu], lembro-me vagamente das minhas irmãs me levarem a passear na cadeira do meu pai.»

As vizinhas e uma tia já sabiam da situação e ajudavam. É com um brilho nos olhos que a mulher de Nel Monteiro recorda as batatas que eram destinadas aos porcos, mas que pedia para comer.  «Essa minha tia normalmente tinha as panelas ao lume a cozer as batatas pequeninas para os porcos. Ela perguntava se tínhamos fome e nós pedíamos se podíamos comer umas batatinhas. Comíamos batatas da panela.»

Com a voz embargada, recorda: «Eu penso que haveria as refeições todas. Eu costumo dizer que desde que tenha sopa em casa, não tenho fome. Podia faltar um bocadinho de pão ou assim».

«A minha mãe barrava banha de porco no pão»

Só frequentou a escola até ao sexto ano, mas recorda-se como eram os lanches. «Lembro-me de ir para a escola e a minha mãe barrava um bocadinho de banha de porco no pão, sabia aos rojões. Por isso, é que somos todas gordas», contou, entre risos.

«Depois tinha colegas muito boas. Havia uma amiga que levava sempre um quadrado de chocolate no pão e ele saturava-se de comer, então trocávamos», recordou.

Os copos de leite com chocolate também eram uma alegria quando vinham com nata em cima. «Havia o copinho de leite com chocolate. Ao intervalo a senhora contínua ia pôr o leite com chocolates nos copos e o bom de tudo era, quando ganhava aquele bocadinho de nata em cima, havia colegas que já não queriam. Aquilo era uma maravilha!»

Com apenas 14 anos, Júlia Resende acabou por deixar a escola para trás para começar a trabalhar. Apercebendo-se das dificuldades da família, tomou conta de um «senhor com 80 e tal anos» e fazia-lhe a lida da casa.

Texto: Mariana de Almeida; Fotos: Impala e reprodução Instagram

 

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