Meter a Colher: às Marias Helenas* da vida

Ser Mulher é uma identidade de luta, e junto a ti tens muitas irmãs, para te apoiarem quando o teu parceiro te trai e te ajudarem a sair de uma relação infeliz, para quando o teu patrão te sobrecarrega e insulta te ajudarem com os limites legais do assédio moral no trabalho

Meter a Colher: às Marias Helenas* da vida

Talvez quando estavas a crescer não te tenham dito que esta é uma sociedade patriarcal que, com o contributo do cristianismo, nos encurralou entre a mulher falível, Eva, e um padrão de Santidade inatingível. Que durante muitos séculos homens escreveram tratados e livros que nos remetiam à condição de inacabadas, portadoras do mal e incapazes de muito, e que tudo isso é mentira.

Que essas ideias de que nunca nos daríamos bem, que não somos cooperativas e que não nos sabemos unir foram desaprovadas por milhares de mulheres que conquistaram os direitos que usufruis e que continuam a lutar para que o amanhã seja melhor. E por isso se celebra o Dia Internacional da Mulher, e se continua a lutar, nesse e noutros dias.

Talvez toda a vida te tenham ensinado que havia as belas, recatadas e do lar e as outras. E que a tua missão era obedecer a esses cânones nunca impostos por ti, mas em ti. E que haviam as boas e obedientes e as outras, perigosas, invejosas, que só queriam aquilo que tu tinhas ou na verdade te tinha a ti, o teu homem. Mentira.

É por isso que o feminismo é importante, para te lembrar e ensinar que tu estás aqui para te cumprires a ti, que nenhuma relação é responsabilidade tua exclusiva, pois o papel de cuidadora que te impuseram e de guardiã do lar é um papel imposto duro e falso.

E a sororidade está aqui para ti, para te lembrar que serás sempre chamada de frigida ou galdéria por um homem qualquer, ou por outra mulher, ainda desacordada, nas garras do machismo, e que, sendo assim, é bom que desfrutes do teu corpo e da tua sexualidade como a ti te aprouver, e não no esforço de agarrar algo que só ilusoriamente te pertence, porque as pessoas não são coisas e sexo é prazer e não obrigação marital.

 

E que ser feminista é também dispor do próprio corpo, é ser autodeterminada, é lutar pelos teus direitos e mostrar os peitos numa capa de revista, se assim bem se entender, como a outra, a Emma Watson, que é atriz e feminista e se realiza como quer.

É que ser mulher é muita coisa, muito mais que ser mãe, cuidadora, esposa, filha ou irmã, muito para além da propriedade ou do substantivo agarrado a outro sujeito, é um nome próprio, para além do ter útero ou vagina, e do que ou quem quer que tenhas entre as pernas.

Ser Mulher é uma identidade de luta, e junto a ti tens muitas irmãs, para te apoiarem quando o teu parceiro te trai e te ajudarem a sair de uma relação infeliz, para quando o teu patrão te sobrecarrega e insulta te ajudarem com os limites legais do assédio moral no trabalho, para te relembrarem que feminismo é entre ajuda, cooperação e criação de autonomia e consciência para todas num mundo onde a igualdade de género ainda está longe de ser uma realidade.

E galdérias somos todas, cada vez que exercemos o nosso direito de pisar e andar por onde queremos, de tomar decisões fora do que moralmente alguém espera, quando tomamos rédeas da nossa vida.

E não te deixes confundir por aqueles que o usam como insulto. Da próxima vez, quando falares de Galdérias fala como se falasses também de ti e usa esse nome com orgulho e poder.

* O nome Maria Helena aqui é apenas utilizado como referência pelas declarações que a taróloga Maria Helena Martins teve durante o programa “Ponto de Equilíbrio” da SiC Internacional no dia 2 de Março. A minha desculpa a todas as outras portadoras deste nome se lhes causo alguma ofensa.

Carmo Gê Pereira
(Foto: Ricardo Faria)
Carmo Gê Pereira | Educadora Sexual para Adultos
Ilustração | Espiga Estúdio de Comunicação

Carmo Gê Pereira tem / é um projecto ligado à sexualidade feminina portuguesa desde 2008. Com 9​ anos de experiência em assessoramento erótico e tuppersex e quase 7​ anos de realização de workshops, formações e tertúlias, sessões de cinema e ciclos de eventos, tudo ligado à área da sexualidade, numa tentativa, bem sucedida de passar uma visão sobre comportamentos e identidades de forma desmistificada e aberta. Frequentou formações e congressos em sexualidades, mestrado em Estudos Sobre Mulheres, realizou formações em Massagem Tântrica com a New Sexology e formações informais em Sexualidades ​Dissidentes. Trabalha ocasionalmente com performance e erotismo. ​Concluiu pós-graduação em Sexologia pela Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica. Tem como principal objectivo providenciar informação individual para que cada qual possa desfrutar do que lhe dá prazer da forma mais segura e exponencialmente prazenteira possível.

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