Crescer. É uma palavra simples com um enorme significado que vai mudando ao longo do tempo

Quando somos jovens, desejamos crescer rapidamente para podermos tomar as nossas próprias decisões. Para nos sentirmos donos e senhores do nosso destino.

Crescer. É uma palavra simples com um enorme significado que vai mudando ao longo do tempo

Quando somos jovens, desejamos crescer rapidamente para podermos tomar as nossas próprias decisões. Para nos sentirmos donos e senhores do nosso destino. Quando somos adultos… Bem… só queremos voltar ao início onde não tínhamos que arcar com as decisões que tomamos e com as escolhas que a vida nos obriga a fazer.

Já todos tivemos esse pensamento num determinado momento. Quando fazemos uma pausa do trabalho, das/dos namoradas/os, da intensa vida social, do stress do dia-a-dia. “Quem me dera voltar à inocência da juventude onde tudo era tão simples”, dizemos para dentro. Não é possível. Já andámos para a frente. Já tomámos decisões. Já não somos a mesma pessoa que éramos há dez minutos. Crescer é um processo que nunca pára.

O máximo que podemos fazer é olhar para trás e ver o filme da nossa vida.

Revejo esse filme sempre que ouço “All My Friends” dos LCD Soundsystem. Nos últimos tempos tenho dado por mim a reflectir sobre a minha vida. No que mudou. Reparei que houve uma parte que se alterou radicalmente: as amizades. O que parecia ser uma união de ideias, companheirismo, preocupação, convívio, acabou por ser um saco cheio de nada. As pessoas mudam. As prioridades mudam. As amizades mudam. É fácil dizer que não existem razões específicas para isso acontecer, “é a vida”. Essa é a razão que ouço mais vezes à qual respondo “merda para isso”.

De todas as coisas que unem os seres humanos, as relações são as que precisam de mais trabalho. Tem de existir uma vontade mútua de querer “estar” com a outra pessoa, de demonstrar que não estamos sozinhos no mundo.

De todas as coisas que unem os seres humanos, as relações são as que precisam de mais trabalho. Tem de existir uma vontade mútua de querer “estar” com a outra pessoa, de demonstrar que não estamos sozinhos no mundo. Contudo, somos todos diferentes. Temos maneiras diferentes de nos expressarmos. O maior desafio está em encaixar essas diferenças uns nos outros e construir uma relação que se mantenha viva e que nos faça bem e da qual podemos depender quando precisamos.

Sempre que ouço “All My Friends” sinto uma necessidade de olhar para todas as relações de amizade que desapareceram e tento perceber o que falhou.

Sempre que ouço “All My Friends” sinto uma necessidade de olhar para todas as relações de amizade que desapareceram e tento perceber o que falhou. Acabo por ter aquele sentimento de tristeza pelas coisas terem desaparecido (com ou sem razão) como se fosse o fim de um ciclo que simplesmente tinha de acabar. “It comes apart the way it does in bad films”. Durante muito tempo, procurei razões. Hoje não. As coisas são como são. Lançámos os foguetes e apanhámos as canas. Resta-me aceitar e aprender para não cometer os mesmos erros no futuro.

“You spent the first five years trying to get with the plan and the next five years trying to be with your friends again”. Mais verdadeiro que isto é impossível. Esta música reflecte o fim de uma era para mim. O fim de amizades e a saída de cena em altas. Como nos filmes, quando alguém sai de uma discoteca completamente bêbado mas feliz da vida sabendo que nunca mais vai voltar a ver aquelas pessoas ou aquele espaço. No dia a seguir perguntamo-nos “where are your friends tonight?” e no outro e no outro e no outro até ao dia em que deixamos de perguntar e apenas ouvimos esta música.

Filipe Carvalho
Filipe Carvalho

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